A família é um lugar seguro para viver e morrer?

O familiar que cuida de seu parente com doença de Alzheimer realiza seu trabalho como cuidador de modo solitário e anônimo, uma vez que, ao receber o diagnóstico da doença, em consultório médico, vai para casa com seu familiar e é lá que vai aprender a cuidar dele à medida que os problemas vão aparecendo. O cuidador é tomado pela surpresa e pelo estresse. Mergulha na insegurança e na falta de visibilidade do amanhã.

 

Novos papéis precisam ser desempenhados, o que lhes causa estranheza: ser o cuidador responsável do cônjuge ou do pai ou da mãe. Outro fato marcante é o relativo às questões antigas, primitivas, não resolvidas, entre pais e filhos e que, em função da doença, podem ficar atualizadas, obrigando as pessoas a procurar a superação de forma curativa. É, em geral, necessária a ajuda de profissional habilitado para essa situação.

 

As famílias discutem muito, usando a noção de probabilidade para justificar a dúvida de alguns familiares, daqueles que não acreditam que seu familiar esteja, de fato, com a doença de Alzheimer. Atribuem seus ônus, esquecimentos, perdas de objetos e agressividade a estratégias para chamar a atenção sobre si, entre outros tantos argumentos. Enquanto se desorienta nessa rota de conflito, a família deixa de ajudar o doente, perde a cooperação e introduz um sofrimento a mais, desnecessário, provocando mal-estar e desconfiança no doente. É nesse momento que o planejamento dos cuidados começa a ser estabelecido, dependendo do modo como irão enfrentar a crise provocada pela doença de Alzheimer.

 

Em compensação, as dificuldades podem ter um efeito restaurador, porque trazem à tona uma parte desconhecida das pessoas, uma forca ignorada até então. Faz com que adquiram sabedoria para desconstruir crenças tóxicas, paralisadoras, egoístas, e construir elos que mobilizem o bem comum e a harmonia.

 

Pense nisso: não sofremos pelas coisas, mas pela visão que temos delas. É possível ver oportunidades no lugar dos problemas, recompensas imediatas substituídas por maior resistência às frustrações, no lugar da autoinvalidação, buscar segurança na informação, trocar o lamento pelo bom humor e descobrir a beleza na simplicidade do cotidiano, na convivência com o familiar, o qual não tem só a doença de Alzheimer, tem sua história, suas lembranças, suas conquistas, seus sentimentos, embora não saiba dizê-los. Tem sua graça de ser quem é! Seu cérebro está doente, mas e sua mente? É uma incógnita.

 

Nossas vidas influenciam-se mutuamente, formando uma rede com doses de amor, necessárias à nossa sobrevivência. Pense nisso também: qual foi a qualidade pessoal que o ajudou a atravessar outros períodos difíceis? Qual foi o amor que o sustentou para chegar até aqui e ser quem você é?

 

Quando a família mantém a amorosidade, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na concordância ou na discordância, encontra espaço para intimidade com expressão de afetos, até de raiva, sem destrutividade, daí surge o sentimento de pertencimento e há coragem para enfrentar as dificuldades do cotidiano e cuidar da pessoa com doença de Alzheimer com firmeza, ternura e compaixão. Essa família é um bom lugar para viver e morrer!

 

O mundo está repleto de sofrimento; Mas também repleto de superação.

 

Fonte:
Helen Keller

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