O processo de envelhecimento patológico, também conhecido como senilidade, é caracterizado por alterações das funções do corpo e das atividades cognitivas, como uma diminuição gradual de algumas funções do cérebro que acabam por caracterizar um quadro demencial.
Os principais sinais das doenças neurodegenerativas e progressivas são: déficit de memória, dificuldade em executar tarefas domésticas, problemas com vocabulário, desorientação em relação ao tempo e espaço, incapacidade de julgar situações, problemas com raciocínio abstrato, colocar objetos em lugares equivocados, alterações de personalidade, humor e comportamento, perda de iniciativa e passividade.
Muitas vezes, a falta de informação sobre as demências faz com que familiares e cuidadores ignorem as possibilidades de tratamento que podem amenizar o avanço da doença e controlar os comportamentos alterados.
Devemos desenvolver estratégias compensatórias e adaptativas, associadas a tratamento medicamentoso, exercícios físicos, alimentação adequada e cuidados pessoais, para estimular o paciente no que tange às funções cognitivas comprometidas e traçar a realização de atividades diárias, conhecidas também como “estimulação cognitiva”.
Estimular o paciente com a doença de Alzheimer e demência senil consiste em instigar, ativar, animar e encorajá-lo a alcançar a diminuição dos efeitos adversos do envelhecimento e da demência, fazendo uso da estimulação cognitiva que também tem a intenção de propiciar melhor qualidade de vida.
A estimulação baseia-se em um conceito bem aprofundado dentro da neurociência referente à “plasticidade cerebral”, compreendida como a capacidade que o cérebro tem de realizar novas conexões neuronais de acordo com as necessidades do sujeito e do meio ambiente. Essa capacidade se modifica de acordo com as circunstâncias a que o cérebro é exposto.
Essa plasticidade pode ser entendida como uma condução de impulsos que reorganiza o sistema nervoso, fazendo com que o cérebro volte a buscar padrões de normalidade.
Ao propor atividades de estimulação, devemos nos atentar a alguns cuidados importantes: ter em mente que as atividades devem ser agradáveis, a fim de propiciar bem-estar, situar-se em uma zona de desenvolvimento proximal, ou seja, não devem ser difíceis e nem fáceis demais; não tratar em tempo algum o idoso como criança e de forma infantilizada, mesmo que ele pareça ser em alguns momentos; criar rotinas; não ultrapassar 60 minutos por dia; evitar mudar móveis e objetos de lugar; estabelecer horários para a realização das atividades; lembrar-se de que só haverá estimulação se o próprio idoso realizar as atividades, portanto nunca as faça por ele.
A prática constante de atividades cognitivas é considerada fator de proteção importante contra o prejuízo cognitivo, pois também interfere na qualidade de vida dos idosos, fortalece a capacidade de interação social, melhora o humor e a disposição física e mental.
Atividades práticas e sociais
Álbum de memória biográfica
É uma reunião de vários momentos marcantes que fazem parte da história da pessoa. Essas lembranças podem constar de fotografias pessoais, fotografias de objetos importantes, convites, recados ou qualquer outra coisa que possa suscitar a memória biográfica da pessoa doente.
O álbum tem como apoio a memória de longo prazo, a qual está preservada em algumas demências e na pessoa com a doença de Alzheimer durante determinado tempo, podendo, dessa forma, trazer facilmente recordações de eventos passados. O álbum acaba sendo uma ferramenta importante para a manutenção de algumas funções cognitivas e promove maior e melhor comunicação entre a pessoa com problemas de cognição e seu familiar/cuidador, sem contar que a construção dessa memória será carregada de significados importantes no estímulo da pessoa.
Sugerimos a criação de uma linha cronológica de lembranças para facilitar a compreensão dos eventos, iniciando, por exemplo, com a data e o local de nascimento, fotos dos pais e irmãos, escola, primeiro emprego, casamento, filhos, netos, entre outras.
Permita que a pessoa participe da escolha do material a ser incluído no álbum. Muitas lembranças surgirão e muitas histórias interessantes serão abordadas.
Sempre que a atividade e a estimulação forem realizadas, abra o álbum, convide a pessoa para vê-lo e, se possível, cole novas imagens. Pergunte quem são as pessoas das fotos, quando elas foram tiradas, estimule-a a falar sobre as roupas das pessoas nas fotografias, penteados, sapatos, como estava o tempo naquele dia, qual era aquele local, o que faziam lá. Observe e deixe a emoção fluir diante das lembranças.
Calendário
Para quem tem problemas de cognição e/ou demências como doença de Alzheimer, um dos sintomas mais frustrantes é a dificuldade de localização no tempo e no espaço. Não saber qual é o dia, que horas são nem o lugar onde se está deixa a pessoa muito confusa e frustrada, e a tristeza é sentida ainda mais por se esquecer das datas comemorativas da família e do próprio aniversário.
É importante usar a estimulação para auxiliá-la nesse sentido. Use um calendário, de preferência com números e letras grandes e com espaço para anotações. Deixe-o em um local visível para que possa ser sempre consultado.
Dê estímulos para ela escrever o nome das datas comemorativas no calendário, feriados, pessoas da família nas respectivas datas de aniversário.
Outros compromissos importantes também podem ser anotados. Diariamente leve a pessoa a consultar o calendário e pergunte qual é o dia da semana, mês e estação do ano, se existe algum fato importante ou aniversariante naquele dia. Assim que responder às perguntas, peça para que ela circule no calendário o dia da semana em que se encontra. Se houver alguma dificuldade, ofereça pistas, mas evite responder por ela.
É fundamental a presença de um relógio, de preferência grande, onde se visualizem as horas, e o familiar ou o cuidador possa orientá-la sobre o horário das refeições, do descanso, dos remédios, entre outras atividades importantes do dia.
Agenda de recados, diário, bloco de anotações
Todos têm a mesma função e são muito úteis no contexto da estimulação cognitiva, e devemos escolher um ou outro de acordo com a necessidade ou objetivo que desejamos alcançar.
A agenda de recados é muito interessante, pois pode ser utilizada para fazer anotações e a família pode deixar recados em diversos lugares (“Hoje é aniversário do João”; “Vovó, amo você”; “Venho almoçar com a senhora amanhã, beijos, sua filha Helena”), coisas que possam chamar bastante a atenção.
O bloco de anotações pode ser usado para anotar recados telefônicos. Devemos deixá-lo ao lado do telefone com um roteiro preestabelecido: Quem ligou? Qual é o recado?
O diário servirá para que a pessoa escreva coisas sobre sua vida, um almoço com os filhos, um passeio ao shopping, como foi a consulta médica. Peça para que a pessoa escreva no diário tudo que aconteceu durante o dia, o que comeu no café da manhã, a que assistiu na TV, as visitas que recebeu, etc.
Nossa sugestão é que se opte por apenas um dos objetos, agenda, bloco ou diário, para não confundir ou sobrecarregar.
Reconhecimento de parentes, amigos ou pessoas famosas
Não reconhecer seus parentes e amigos é muito frustrante e doloroso. Existem algumas estratégias que podemos usar para estimular a lembrança dos parentes, amigos e pessoas famosas.
Sempre tenha em mãos álbuns de fotografias, pois a imagem das pessoas nas fotos servirá como um recurso compensatório, uma “pista” para que a pessoa consiga recordar nomes, quem são as pessoas, o local em que estavam. Alguns preferem criar um mural de fotos em uma parede.
A árvore genealógica é uma dica interessante, pois pode ser adaptada de acordo com o paciente e suas necessidades, podendo ser usada na arteterapia com a colagem de fotos.
Nossa memória funciona mais efetivamente quando usamos associações, ou seja, quando associamos mais informações a um determinado assunto, como, por exemplo: este é o João, seu neto, filho da Maria.
Deixar porta-retratos em lugares estratégicos também é um excelente estímulo, pois a pessoa verá a foto sempre que passar por ela.
Convide alguns familiares e amigos para uma visita para que ela realize essa atividade a fim de fixar o conteúdo, além de socializá-la e estimulá-la.
Reconhecimento de sons
Músicas, ruídos e outros sons chamam a atenção da pessoa idosa. Portanto, usar essas alternativas na estimulação cognitiva tende a ser prazeroso e divertido. É preciso adaptar a atividade ao gosto pessoal de cada um.
Na utilização de músicas, pesquise sobre os estilos com os quais a pessoa se identifica mais. Coloque as músicas para tocar e pergunte qual é o nome da música, quem está cantando, se algum instrumento se sobressai.
Observe ruídos dentro de casa. Uma porta que bate, o apito da chaleira, o chuveiro ligado, o motor do carro, a campainha. Pergunte sobre todos os sons possíveis. É prático e fácil usar esses recursos da vida diária. A atividade acaba se tornando um momento de descontração para a pessoa doente e para o familiar/cuidador.
Convívio familiar e social
O convívio familiar e social é importante para manter-se socialmente ativo e serve de estímulo para a capacidade funcional. Esse convívio pode acontecer dentro do contexto familiar ou em grupos da terceira idade, aula de artes, cinema, auxílio nas compras do mercado, visita a parentes, passeio no parque com familiares, almoço em família.
As reuniões familiares são importantes desde que a família tome certos cuidados para preservar a pessoa doente. Ambientes com som alto, muitas pessoas falando ao mesmo tempo, crianças correndo, tudo isso acaba perturbando e desestabilizando a harmonia interna do doente.
É importante viabilizar um ambiente familiar digno e tranquilo.
Datas comemorativas
As datas de Natal, Ano-Novo, Carnaval, Páscoa, Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia da Independência, Dia da Criança, festa junina e aniversários, entre outras, nos dão excelentes recursos para prática e estimulação cognitiva.
Em datas especiais, enfeite a casa com acessórios específicos, envolva a pessoa no projeto e faça perguntas sobre o evento, o que se comemora naquele período, que data importante é aquela que se aproxima. Caso a pessoa tenha dificuldade, forneça pistas, mas evite dizer o nome completo da data comemorativa. Lance mão de músicas temáticas, acessórios, símbolos, desenhos para que ela descubra por conta própria.
Estruturar o ambiente
Quando se tem o diagnóstico da doença relacionada à cognição, memória, demência senil, é necessário providenciar algumas modificações no lar com o objetivo de proporcionar independência e autonomia à pessoa (enquanto é possível), e também a fim de evitar pequenos e grandes acidentes domésticos.
É bom deixarmos fotografias de familiares em locais visíveis. Retirar móveis em excesso do ambiente para evitar esbarrões, além de passadeiras e tapetes que possam causar tropeços.
A estruturação do ambiente deve respeitar os hábitos de vida da pessoa doente e servir de auxílio para que ela possa se encontrar dentro do seu próprio lar, mesmo que seja com a supervisão de outra pessoa. Podemos colocar etiquetas nas gavetas sinalizando camisas, calcinhas, cuecas, meias, calças, blusas de frio.
O objetivo é estimular a pessoa para que localize por conta própria seus pertences pessoais e o que for necessário.
Um local que requer muito cuidado é a cozinha. Muitas pessoas gostam de cozinhar e ainda possuem algumas capacidades preservadas, mesmo que para isso precisem de ajuda ou supervisão. Devemos incentivar que elas façam o que sempre fizeram. Comece por sinalizar os potes de açúcar, sal, farinha, café, etc.
Como estímulo, pode-se convidá-las para fazer um bolo e envolvê-las em todo o processo, exemplo: “Mãe, pega o açúcar, por favor.”
Jardinagem
Além de cumprir a função de estimulação cognitiva, a jardinagem proporciona benefícios físicos e emocionais. O interessante dessa atividade é que ela contempla muitas funções cognitivas como memória, sensação, percepção, planejamento, organização, atenção, concentração, memória olfativa, além de promover bem-estar, tanto para a pessoa doente como para seu familiar/cuidador.
Além de promover autonomia à pessoa, entrar em contato com a terra, regar, plantar, adubar, colocar ao sol e colher flores e frutos podem produzir calma e bem-estar.
Como cada um de nós é único e tem hábitos e gostos próprios, devemos sempre avaliar se as atividades são de fato agradáveis.
Culinária
A culinária é um ponto de encontro de pessoas e sentimentos. É um momento de interação e comunicação muito importante para a pessoa doente e seus familiares e cuidadores. Além disso, é uma ótima atividade para estimular memória, atenção, planejamento e, principalmente, os sentidos. Não se trata só de botar a mão na massa, pois sons, cheiros e sabores vão aos poucos trazendo à tona lembranças e reminiscências.
É importante estimular a autonomia e permitir que se realizem algumas tarefas como preparar lanches simples, descascar frutas, medir ingredientes, arrumar a mesa, lavar ou secar a louça, guardar alguns utensílios, separar os talhares nas gavetas, organizar os temperos, etc.
Também é possível pedir auxílio para as compras, ajuda para montar uma lista com os produtos a serem comprados na feira ou no supermercado.
Não exponha a pessoa a riscos potenciais dentro da cozinha. Não permita que ela permaneça só ou manuseie objetos cortantes.
Sempre que você for cozinhar, chame-a para ajudar, permita a ela esses pequenos momentos que, somados a outros, auxiliam muito na manutenção da função cognitiva.
Música e dança
A música é a última habilidade esquecida pela pessoa doente e pode ser utilizada em todos os estágios das doenças ligadas à cognição.
Elementos como som, ritmo, harmonia e melodia despertam muitas lembranças. Por exemplo, um bailinho que foi vivenciado na adolescência ao som de certa canção.
A música estimula a memória, emoções, sensações e mexe com o corpo. Além disso, tem o potencial de promover uma melhor comunicação entre os envolvidos. É importante conhecer o gosto musical da pessoa e, a partir disso, criar atividades que possam englobar alguns estímulos. Como a memória de longo prazo é a mais preservada nesse contexto, sugerimos que as músicas escolhidas sejam da época em que a pessoa era jovem.
Pode-se deixar uma música tocar (sempre em tom baixo e suave) e perguntar à pessoa quem canta ou o nome da música, ou parar a música em determinado trecho e pedir para a pessoa continuar cantando. Pode-se trabalhar com trilhas sonoras de novelas ou filmes antigos. Deixe tocar e pergunte qual é o nome da novela ou do filme. Se a pessoa tiver boa mobilidade e equilíbrio, convide-a para dançar.
O trabalho com música diminui o estresse, a ansiedade, e permite a estimulação de várias partes importantes do cérebro.
Músicas sugeridas: “Saudosa Maloca”; “Como é grande meu amor por você”; “Cidade Maravilhosa”; “Com que roupa?”; “Nossa Senhora”; “Garota de Ipanema”; “Trem das Onze”; “O Menino da Porteira”; “Fascinação”; marchinhas de carnaval, etc.
Leitura
A leitura é um meio muito eficaz para exercitar e estimular nossa memória. É considerada uma das atividades cerebrais mais completas. Por meio da leitura podemos estimular memória (verbal e visual), atenção, concentração, criatividade e imaginação. Ela tem a capacidade de expandir nossa mente, oferecendo-nos a possibilidade da linguagem, de expressar sentimentos, de construção de sonhos, etc.
A função imaginativa é o mais presente, pois a leitura nos proporciona pensar sobre um desfecho e imaginar o término da história, como seriam os personagens ou o cenário, entre outros detalhes que compõem o enredo.
Sabendo das preferências, podemos oferecer livros, desde que não tenham complexidade maior do que a pessoa consegue dar conta. Também podemos explorar pequenas fábulas, poemas, contos, notícias em jornais e revistas, cartas ou mesmo documentos pessoais.
Peça para que a leitura seja em voz alta, dessa forma a compreensão e a memorização serão maiores. Pergunte detalhes sobre o que foi lido, ajude a pessoa com dicas, mas evite responder por ela. Na incapacidade ou inabilidade de conseguir ler, sugere-se que o familiar ou cuidador cumpra o papel de leitor e, posteriormente, ofereça pistas, fazendo perguntas sobre o que foi lido.
Se a pessoa desaprendeu ou não sabe ler, é interessante escolher uma história ou poema, separar imagens ou recortar figuras que representem o contexto da leitura e deixá-las sobre a mesa. Após ler em voz alta, peça para que ela pegue as figuras que representam a história. Por exemplo: “Maria, o que tinha dentro da casa?”, a pessoa olha para as figuras e pega a imagem de uma mesa.
Televisão
A televisão é uma boa alternativa de exercício, pois apresenta vários estímulos que podem ser trabalhados como imagens, cores, sons, linguagem, atenção. Respeite a preferência da pessoa e opte por programas a que ela goste de assistir, dessa forma a atividade será prazerosa e colaborativa.
Quando estiver assistindo a seu programa favorito, novela, reportagem, filme, telejornal, converse com ela sobre os detalhes daquilo a que está assistindo. Questione-a sobre os personagens e seus comportamentos, sobre as vestimentas e, inclusive, discutam temas atuais, dando oportunidade para que ela dê sua opinião ou apresente um ponto de vista.
Podemos questionar sobre a pessoa que aparece na imagem, a cor de suas roupas, o que estava fazendo ou dizendo, quais os objetos que aparecem na cena.
Organização da rotina diária
Criar uma rotina é eficaz e é uma maneira de estimulação cognitiva, pois colabora para organizar sua vida e a do familiar/cuidador, além de representar um novo modelo de aprendizagem.
Essa rotina preestabelecida deve consistir em atividades e exercícios em horários regrados, levando em consideração a alimentação e os horários de banho e passeios, entre outros.
Podemos criar algumas planilhas de organização de tarefas semanais com horários para acordar e dormir, refeições diárias, caminhadas, etc. Assim, na ausência do familiar/cuidador principal, quem ficar responsável pelos cuidados saberá o que fazer em cada horário.
Estimule a pessoa a consultar a planilha diariamente com a supervisão de um responsável e, dessa forma, exercitá-la. Aponte para a planilha e pergunte em que dia estão. Posteriormente a auxilie a identificar o horário e qual a atividade programada para aquele momento, estimulando que ela o faça sozinha. Se houver dificuldade, forneça pistas.
Os horários de medicação e alimentação também devem ser colocados em uma planilha. Tudo isso influencia beneficamente o estado de saúde.
Jogos e atividades didáticas
São grandes colaboradores no processo de estimulação cognitiva. Se bem orientados, estimulam memória, atenção, concentração, sensação, percepção e funções executivas, entre outras. Sugere-se que as atividades e jogos não sejam muito complexos, a ponto de a pessoa não conseguir executá-los, nem fáceis demais, de forma que sejam resolvidos sem esforço.
Quebra-cabeça – Estimula habilidades como atenção, concentração, coordenação motora, noção de espaço, raciocínio lógico e é um grande aliado no desenvolvimento físico, psicomotor e neurológico. Além disso, é um jogo que promove interação entre a pessoa doente e seu cuidador. Sugere-se que tenha poucas peças, no máximo 16 peças grandes. Diminua as peças se houver dificuldade. Procure usar imagens de animais, parentes próximos, etc.
Tangram – É um quebra-cabeça chinês composto por sete peças, das quais duas são triângulos grandes, duas são triângulos pequenos, uma é um triângulo médio e tem ainda um quadrado e um paralelogramo. O objetivo desse jogo é formar figuras usando as sete peças.
Esse tipo de quebra-cabeça é muito interessante no contexto da estimulação, pois trabalha com atenção, raciocínio lógico, planejamento, criação e visão espacial, entre outras habilidades.
Jogo da memória – É um jogo que exige muito da atenção e da memória, duas funções cognitivas que andam juntas, além de exigir capacidade de observação e concentração dos participantes. O objetivo é, ao virar uma peça, a pessoa conseguir memorizá-la e encontrar seu par virando outras peças no tabuleiro.
Dependendo do grau de dificuldade, deve-se adaptar o jogo à necessidade da pessoa.
Sugere-se que as imagens do jogo da memória possam ser de parentes e amigos próximos, a fim de estimular também o reconhecimento dessas pessoas, mas podem ser de animais, números, flores ou locais frequentados.
Jogo da velha – É um passatempo bem popular e que pode ser adaptado para a estimulação. Esse jogo é simples, mas requer estratégia, atenção e concentração. Sugerimos que as peças sejam de um tamanho maior para facilitar a atividade.
Os cinco sentidos
Os cinco sentidos compreendem visão, audição, olfato, paladar e tato. A literatura especializada aponta a existência de um sexto sentido chamado de “propriocepção”, que é a capacidade do nosso corpo manter-se em equilíbrio. Ao longo do processo de envelhecimento, essas funções sofrem um enfraquecimento que pode prejudicar o sujeito em suas atividades cotidianas. Os sentidos podem ser ricamente explorados em qualquer contexto como base para atividade de estimulação completa.
Por exemplo, pegue uma maçã e pergunte à pessoa doente qual é sua cor, forma, tamanho e sabor. Pode fazer isso com qualquer fruta. Durante o banho, pergunte se a água está quente ou fria. O tato pode ser trabalhado com a pessoa vendada, como um jogo de adivinhação. Coloque alimentos em uma vasilha e pergunte o que é, sua textura, seu gosto. Utilize objetos que façam barulho. Apito, sino, tampa de panela, chocalho. Leve a pessoa até a janela para que ouça o som da rua, o canto dos pássaros, os passos dos pedestres.
Arte
No contexto da estimulação cognitiva, pintura, colagem e artesanato em geral são intervenções terapêuticas que podem proporcionar uma estimulação completa, pois envolvem várias funções na execução das atividades como criatividade, coordenação motora, memória e socialização, além de favorecer o resgate da autoestima e dar autonomia nas atividades cotidianas, permitindo ao indivíduo expressar seus sentimentos e propiciando-lhe bem-estar.
A arteterapia é um recurso facilitador para a comunicação, amplia a consciência e a percepção de si e promove a socialização do paciente. Nesse contexto, podemos usar lápis, tinta, giz de cera, por exemplo, colar sementes ou lantejoulas, produzir estátuas com argila ou massa de modelar, trabalhar com material reciclável e confeccionar artesanatos em geral, reproduzir quadros, obras e arte, etc. Não é preciso habilidade artística, pois o que está em questão é o nosso “eu terapêutico” que será estimulado.
Trabalhos manuais
Exigem muito de funções cognitivas, como planejamento, atenção, concentração, coordenação, memória, além de estimular a criatividade, a socialização e a autoestima, propiciando a aproximação da pessoa doente com seus familiares. Acabam por ser uma atividade estimuladora eficaz e prazerosa, produzindo momentos de tranquilidade e relaxamento. É preciso planejar o que será feito, organizar o material, estar em um ambiente tranquilo e bem iluminado para realizar o trabalho.
Sugerimos como opção de trabalho manual: colagem, pintura de telas, pintura de pano de prato, pintura de peças de cerâmica, tricô, crochê, bordado, costura, criar álbuns de fotografias, escrever cartas, confeccionar flores de papel, decorar caixas e realizar trabalhos de marchetaria, entre outros.
Outros auxílios
Algumas opções de sites e aplicativos que podem auxiliar para o estímulo da cognição:
- Lumosity (lumosity.com). Programa de treinamento cognitivo gratuito, disponível nos sistemas iOS e Android.
- Cognifit (www.cognifit.com/br). Oferece ao paciente o uso de ferramentas mais simples de estimulação cognitiva para que profissionais as usem na reabilitação.
- Aplicativo “Instrumentos Musicais”. Permite que sons de instrumentos sejam tocados e reconhecidos pelas pessoas.
- Aplicativo “Marinhos”. É um jogo de memória básico com animais marinhos.
- Aplicativo “Brain Trainer Pro Free”. Permite a realização de atividades como memorização de números, sequência lógica, etc.
- Aplicativo “Fit Brains”. Plataforma para treino de habilidades cognitivas, seleção de atividades e níveis de dificuldade de acordo com uma pré-pesquisa da pessoa.
- Aplicativo “Just a Find”. Permite que alguns erros sejam localizados nas imagens. É um jogo parecido com o jogo dos sete erros.
- Aplicativo 1000 Jigsaw Puzzles. Quebra-cabeça que permite o uso de fotos pessoais.
- Aplicativo Mathboard. Permite realizar cálculos com cinco opções de resposta para escolha. O usuário pode escrever na tela como se escrevesse em um papel.
Fonte:
Este texto foi adaptado do maravilhoso livro “Alzheimer: identificar, cuidar, estimular” (Portal Edições, 2017), da psicóloga Simone de Cássia Freitas Manzaro.