Para a antropóloga Mirian Goldenberg, os seniores que são bem-sucedidos nesse processo são aqueles que têm um projeto de vida e que trabalham com criatividade, recomeçando aos 60.
Essas pessoas são os “sem-idade”, pertencem a uma geração que transformou o comportamento de homens e mulheres, que tornou a sexualidade mais livre e prazerosa, que inventou diferentes arranjos amorosos e conjugais, que legitimou novas formas de família e que ampliou as possibilidades de ser pai, mãe, avó e avô e que se reinventa permanentemente. Essa geração rejeita estereótipos e cria novas possibilidades e significados para o envelhecimento.
Ao responder à pergunta: “O que eu quero ser quando envelhecer?”, os sonhos antigos renovam-se em “projetos de vida”, com novos contornos, como netos, universidades, palestras…
As mulheres não falam tanto do trabalho. O significado da vida para elas tem muito a ver com a liberdade de escolha e coisas que não puderam fazer antes. Elas valorizam coisas mais livres.
Os homens são mais ligados a uma atividade profissional ou a algum compromisso, mesmo que não remunerado. Eles também valorizam o estudo e falam mais positivamente sobre a família do que as mulheres.
Para muitas delas, o casamento foi uma espécie de prisão. Elas vivem a bela velhice se libertando das obrigações que tinham dentro e fora de casa.
Há muito preconceito sobre os seniores com novos projetos de vida, sobretudo em uma idade em que muitos já penduraram as chuteiras.
Para eles, o que interessa é a qualidade de vida que escolhem ter. Formar-se aos 70 anos não é problema. Os homens não vivem tanto essa revolução, pois já desfrutaram de mais liberdade.
O maior valor para elas é a liberdade tardiamente conquistada.
Eles querem afeto, aposentaram-se, estão mais dentro de casa e começam a demandar uma atenção que elas não querem mais dar.
LIBERDADE VS. FELICIDADE
A liberdade é diferente para cada pessoa.
A felicidade é subjetiva e o ideal que todos perseguem é alcançar a liberdade com segurança, mas ninguém consegue ter os dois.
As mulheres que apostaram na segurança (filhos, profissão, etc.) querem a liberdade dos anos 1970. As que apostaram na liberdade chegam à velhice procurando segurança e idealizando a família feliz (maridinho, filhos).
A solução está em equilibrar esses desejos básicos.
As amizades são fundamentais para as mulheres, até mais do que a família.
Com o marido e, principalmente, com os filhos, elas não sentem a segurança de que necessitam.
A mulher precisa ser ouvida:
– Ela sente carência da intimidade de uma conversa profunda e atenciosa. Reclama que os homens não têm paciência, já querem resolver…
– Ela acha que dá mais do que recebe. Com as amigas, tem reciprocidade no dia a dia, na doença…
As reclamações masculinas são quanto a humor, leveza e tranquilidade. Eles não gostam de tumulto e querem paz. Não entendem que as mulheres são tão exigentes, ansiosas, insatisfeitas.
Eles cultivam mais o senso de humor e são invejados pela capacidade que têm de brincar e esquecer. Podem até estar sofrendo, mas não reclamam e tocam a vida. São mais pragmáticos nos sentimentos.
Para as mulheres, essa atitude deles parece falta de afeto, envolvimento, amor. Não é. Trata-se da forma deles de lidar com as emoções.
O tempo para as mulheres é o bem mais valioso, pois veio junto com a liberdade.
“Não vou mais ser atropelada pelo tempo dos outros. A prioridade vai ser a minha vontade, como eu vou usar o meu tempo.”
A mulher de 40 não tem tempo para si (casa, filhos, marido, profissão). Após os 60, elas dizem que o tempo é delas. Deixa de ser obrigação e passa a ser escolha.
Os homens também querem viver intensamente cada fase da vida e não querem mais qualquer passatempo. Mais velhos querem ter mais convívio com a família, mas não reclamam de ter perdido tempo.