Além de práticas como reposição hormonal, dieta e exercícios físicos, autoanálise e novos planos são grandes aliados nessa fase da vida.
Se a vida lhe der um limão, faça uma limonada. “a expressão, que estimula a reagir e a aproveitar todas as situações, em especial as adversas, para dar a volta por coma, serve como luva às mulheres que vivenciam a pós-menopausa – período iniciado um ano depois da última menstruação. É que, como explica o ginecologista e obstetra paulistano Marcelo Steiner, geralmente essa fase não é marcada apenas pelos efeitos físicos da redução da produção de hormônios, mas muitas vezes por questionamentos em relação ao fim da carreira e ao longo casamento, à saída dos filhos de casa ou a eventuais doenças dos pais, por exemplo.
Não bastassem esses aspectos, Alice da Silva Moreira, psicóloga e professora aposentada pela Universidade Federal do Pará, lembra que a realidade social se alimenta do mito da eterna juventude e do esforço irracional para negar que a morte é inevitável. Ou seja, mais uma dificuldade a transpor.
A profissional sugere, para isso, que a consciência da finitude da vida seja associada à maior valorização dela.
“A valorização de tudo o que já realizamos ao chegar a essa etapa da vida é que deveria ser ao mesmo tempo nosso prêmio e nossa motivação para novas conquistas e aprendizagens”, reforça.
Até porque, segundo a psicóloga, a época atual é de questionamento e tentativa de reconstrução da imagem social da mulher. Assim, a geração que vive a menopausa neste início de segundo milênio abandonou os padrões herdados de suas avós e tem a responsabilidade de refletir sobre que rumo dará a isso, que herança deixará às novas gerações. “Não se deve esquecer que é provável que tenhamos aumento da expectativa de vida e feminização da população, de acordo com as projeções do IBGE”, observa.
MUDANÇAS
As mulheres entram na menopausa, ou seja, param de menstruar, quando seus sistemas reprodutivos deixam de produzir testosterona e, principalmente, estrogênio – que atua como uma espécie de anti-inflamatório, um protetor do organismo.
Gradual, esse processo de perda de hormônios incide por cerca de cinco anos e, de acordo com o perfil, o comportamento e as características individuais, pode ser marcado por uma série de sintomas, como alterações bruscas de humor, melancolia injustificável e, principalmente, ondas de calor. “São os chamados fogachos, que vêm do tronco para a cabeça e podem ser moderados ou intensos, acompanhados ou não de sudorese e vermelhidão facial, e se prolongam por até dez anos”, explica Marcelo Steiner.
Em geral, esses sintomas são passageiros, ao contrário de outros, evolutivos, como secura vaginal e perda de massa óssea, além de risco cardiovascular, decorrente do aumento do colesterol e da gordura em torno do abdome. Justamente por isso, ao perceber os primeiros sinais é importante que as mulheres consultem um ginecologista e avaliem, com ele, os efeitos que esses sintomas têm e terão em suas vidas, como reduzi-los ou eliminá-los, e se estão aptas e/ou desejam se submeter a uma terapia de reposição hormonal.
Os impactos emocionais também podem ser relevantes e, segundo a psicóloga Alice Moreira, representar um desafio para a mulher, já que as mudanças tornam-se mais intensas e aceleradas do que a transformação que ocorre continuamente em seus corpos.
“A reconfiguração dos padrões hormonais e as alterações mais evidentes nas formas e na consistência do corpo, por si sós, impelem a maior consciência corporal e a necessidade de construir novos comportamentos, novos movimentos, novos hábitos”, pondera.
Além de medidas mais práticas, outros comportamentos são sugeridos pela psicóloga Alice Moreira para que as mulheres encarem a nova fase com serenidade. “Talvez seja a hora de revisitar memórias, fantasiar com algumas das versões anteriores de nós mesmas, buscando atribuir novos significados. Talvez haja coisas a serem relevadas ou perdoadas; talvez aquela ‘menina’ precise de um abraço seu; talvez aquela ‘jovem’ mereça um elogio ou um agradecimento pelo que conseguiu fazer naquelas circunstâncias, possibilitando que você chegasse até aqui. Talvez existam realizações a serem cobradas: aprendi a pedalar com 48 e recomecei o estudo de música aos 55”, declara ela. E garante: “Provavelmente somos agora uma versão aprimorada daquilo que sempre fomos: qualidades e defeitos aperfeiçoados nas lutas para nos aproximarmos do projeto de pessoa que temos construído para nós mesmas, ainda longe de acabar”.
Uma terapia (muito) individual
Por Erika Mazon, sócia-diretora da KMZ Conteúdo, jornalista e editora, com ampla experiência em publicações corporativas.
A lógica é simples: se a queda de estrogênio no organismo feminino tem efeitos nada agradáveis, basta repor o hormônio para não os sentir, certo? Nem sempre e nem tanto!
O ginecologista Marcelo Steiner esclarece que a terapia de reposição hormonal é indicada apenas a pacientes: 1) que manifestam os sintomas da menopausa; 2) nas quais os sintomas têm impacto importante, ou seja, causam grandes desconfortos ou constrangimentos e as impedem de realizar tarefas; 3) que não têm contraindicação.
Ainda assim, antes de iniciar o tratamento é necessária uma série de exames que, somada à definição do perfil da mulher, ajuda o médico a definir dosagem, tipo de medicamento e via de administração. Por exemplo: para a hipertensa há uma droga mais recomendada; para a fumante, a via trans dérmica é mais aconselhável que a oral, e assim por diante. É também variável o tempo de terapia, que deve sempre ser acompanhada, segundo Steiner, de dieta adequada e exercícios físicos.
Além disso, o monitoramento tem de ser constante, e os riscos, ponderados. É que o principal estudo realizado sobre o tema, nos Estados Unidos, a partir da avaliação de 27 mil mulheres, constatou que as adeptas da terapia de reposição hormonal tiveram risco aumentado de câncer de mama após cinco anos. Em termos absolutos, entre as que não faziam reposição hormonal,30 mulheres, em 10 mil, por ano, tiveram câncer de mama. Já entre as usuárias da terapia, 37, em 10 mil, por ano, manifestaram a doença. “O risco é pequeno, mas existe. Assim, tem de haver franqueza por parte do médico, de expor benefícios e riscos, colocar na balança e ver o que a paciente deseja”, defende Steiner. Até porque outros estudos mostram que mulheres que adotam a terapia de reposição hormonal morrem menos de câncer do que as que não adotam. Isso porque se sujeitam a acompanhamento médico com mais frequência, o que facilita a detecção da doença no início e a consequente cura.
Fonte:
Marcelo Steiner – Doutor em Ginecologia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), mestre em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), especialista em Ginecologia e Obstetrícia e médico colaborador do Departamento de Ginecologia Endócrina, Climatério e Planejamento Familiar da FMABC.
Alice da Silva Moreira – Psicóloga e professora aposentada pela Universidade Federal do Pará.