A BUSCA DA FELICIDADE

A maioria das pessoas, hoje em dia, parece viver de modo tristemente parecido: muita correria, imensas preocupações, noites de solidão, amores desfeitos, profissionais trabalhando sem prazer, filhos criados sem pai, alegrias de menos e frustrações de sobra. A angústia tem sido uma companheira constante de muita gente que tem a sensação de que está desperdiçando a vida.

 

Talvez neste momento você esteja se perguntando: para que tudo isso? Será que a infelicidade é uma sombra que nunca vai deixar de nos acompanhar?

 

As soluções encontradas para todas essas questões, além de não resolverem, parecem trazer ainda mais problemas. Porém, para mim, o que realmente funciona é você parar e fazer uma reflexão profunda e reorganizar sua vida de modo que a felicidade se torne um estilo de vida. 

 

Ela não pode ser uma decisão passageira, mas sim uma maneira de viver. Para isso, você deve saber o que o faz feliz, descobrir o sentido da sua vida, ajudar as pessoas a serem felizes e aprender a sorrir todos os dias. 

 

Quando eu era criança, sentia-me infeliz, pois havia tantas coisas para fazer e eu não podia fazê-las. Quando a frustação batia, pensava sempre em situações futuras que chegariam e trariam a felicidade. Foi assim quando entrei no ensino fundamental e sonhei com o ensino médio esperando a tão sonhada felicidade e… Assim transferi meus sonhos para a faculdade de medicina pensando na formatura, na recompensa financeira, mas a frustração e a angústia só aumentavam.

 

Percebi que a vida funcionava de outro jeito, pois não existe felicidade definitiva, apenas momentos felizes. E eu deveria aproveitá-los ao máximo para desfrutar a vida da melhor maneira possível.

 

Aprendi que é um equívoco confundir felicidade com prazer, que era a sensação que sentia quando me apaixonava ou conseguia uma vitória no trabalho.

 

Faltava algo mais e concluí que a felicidade não existia.

 

Em 1986 eu conquistara tudo que imaginei ser possível na minha vida, mas estava frustrado e, como sempre fui muito religioso, não acreditava que o criador me enviara para esta viagem por tão pouco.

 

Deveria haver algo mais.

 

Decidi ir ao Oriente e saber dos mestres o que pensavam sobre a felicidade.

 

No Nepal, em um mosteiro budista, fui recebido por uma mestra e perguntei:

 

“O que é budismo?”. Tranquilamente ela respondeu: “A base do budismo é o fato de que todo ser humano sofre”.

 

Pensei não ser possível sair da cultura ocidental, que prega o sofrimento como base da purificação e da sabedoria, e ouvir no Nepal que o budismo é sofrimento…

 

Perguntei: “Por que os seres humanos sofrem?”. “Porque são ignorantes”, ela respondeu.

 

“E qual é o conhecimento que nos falta?”, arrisquei. “Precisamos compreender que as coisas em nossas vidas são dinâmicas e fluídas. Quando o ser humano está feliz, bloqueia a felicidade, pois deseja a eternidade para tal momento. Torna-se rígido, com medo de que o prazer acabe. Quando está infeliz, julga que o sofrimento não terá fim, mergulha na sombra e assim amplia sua dor. Cada momento tem sua beleza. No prazer nos expandimos e na dor nos contraímos. Saber apreciar a alegria e a dor constitui a base da felicidade. Você não pode ser feliz somente quando tem prazer, pois perderá o maior aprendizado da existência. Você deve descobrir como ser feliz na experiência dolorosa, porque ela carrega a oportunidade do desenvolvimento.”

 

Meu queixo caía à medida que ela falava. E ela continuou a me ensinar: “Viva intensamente o Sol e a Lua, a calmaria e a tempestade. Agradeça a quem lhe estende a mão e a quem o abandona, pois certamente nesse abandono está a força que existe no seu interior. A felicidade não é o que você tem, mas o que faz com o que tem. Por esse motivo, vemos pessoas com bens materiais, com filhos saudáveis ainda assim sentirem-se angustiadas e deprimidas. A felicidade permanente vem quando aprendemos o significado dos acontecimentos em nossa vida”.

 

Encantado, agradeci: “Obrigado, mestra”.

 

Aprendi que a felicidade depende de como elaboramos os acontecimentos em nossas vidas, como lidamos e reagimos a eles. Há pessoas que não desperdiçam uma oportunidade de sofrimento. Porém, transformar pequenas ocorrências em fontes de alegria é habilidade de poucos.

 

Minha conclusão é que, à medida que as pessoas evoluem e amadurecem, passam por quatro fases no processo de percepção da felicidade: 

 

PRIMEIRA FASE

 

Acontece na infância. A criança entende a felicidade como “prazer eterno”.Com o tempo e as frustrações, ela torna-se um adulto que depositará sua expectativa de felicidade no futuro. Muita gente não ultrapassa essa fase. Na infelicidade, imagina o príncipe encantado que surgirá para realizar seu sonho de felicidade. Acredita encontrar um emprego em que será feliz diariamente. Quem pensa assim crê que as pessoas se dividem de duas maneiras: mocinhos e bandidos. Por isso vive sempre frustrado, sendo sempre pego de surpresa, desapontado com tudo e com todos. 

 

SEGUNDA FASE

 

É quando assimilamos nossas frustrações e passamos a acreditar que a vida é apenas uma coleção de momentos felizes. Alguns desistem até de viver um relacionamento duradouro para procurar prazer em encontros fortuitos. Nesse caso, a felicidade se esvazia porque se restringe a fragmentos da vida. É o caso dos que se sentem felizes somente quando comem ou dos profissionais somente no dia de receber o salário. Quem pensa assim acha que a vida é um sofrimento eterno com pequenos momentos de alegria. 

 

TERCEIRA FASE

 

É a fase em que aprendemos que a vida é uma série de ciclos entre celebração e aprendizado, entre instantes de dor e prazer. Aqui percebemos que é preciso aproveitar os momentos agradáveis e desagradáveis. E que desperdiçar qualquer experiência é perder a valiosa chance de crescer como pessoa e sentir que estamos vivos.

 

QUARTA FASE

 

É o momento da maturidade, no qual aprendemos que tudo o que acontece em nossas vidas tem um sentido de aprimoramento. Nesse estágio de compreensão, paramos de reclamar e simplesmente aprendemos a lição de cada evento doloroso ou prazeroso, evoluindo no que é necessário.

 

É o exemplo da mulher que, por ter um pai alcoólatra e por não ter conseguido evitar sua morte, quando adulta se envolveu com homens que bebiam demais, até que um dia se dá conta de que o pai fez com sua própria vida o que quis e que ela não precisava se envolver com dependentes de álcool para salvá-los. A experiência de impotência quando criança criou nela uma necessidade patológica de querer salvar alcoólatras.

 

Quando a consciência chega, a pessoa amadurece e se livra dos padrões destrutivos. É como disse a mestra: a felicidade permanente surge quando entendemos o significado dos acontecimentos e aprendemos tanto com a felicidade quanto com a dor.

 

Se você chegou a esse ponto, que bom! Certamente já começou a perceber que é o criador dos acontecimentos da sua vida. 

 

 

A maior prova de que aprendemos a lição é o quanto conseguimos ser felizes.

 

Fonte:

Roberto Shinyashiki – Empresário, palestrante e doutor em Administração de Empresas pela Faculdade de Economia e Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/UPS)

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