Alzheimer&Demências

A doença de Alzheimer é apenas uma das várias formas de demência, acometendo todos os tipos de pessoas, de ambos os sexos, no mundo todo.
Calcula-se que atualmente existem cerca de 45 milhões de pessoas com a doença.

 

As demências são doenças que causam deterioração das funções mentais, do comportamento e da funcionalidade. A doença de Alzheimer é responsável por 50% a 70% dos casos de demência, levando a alterações progressivas da memória, do julgamento e do raciocínio intelectual, tornando o indivíduo cada vez mais dependente, ou seja, necessitando da ajuda de outra pessoa para sua própria sobrevivência. Representa um declínio do indivíduo em relação a todas essas funções expostas quando comparado ao seu estado anterior.

 

A doença de Alzheimer atinge homens e mulheres de todas as raças e classes sociais, sendo considerada uma doença do envelhecimento, pois é mais comum em pessoas com 65 anos ou mais. Essa forma de ocorrência é também chamada senil. No entanto, muito mais raramente, ela pode ocorrer antes, geralmente após os 40 anos de idade, sendo chamada, nessa forma, de pré-senil. A forma senil geralmente tem curso mais lento, sendo considerada doença crônica, embora o comprometimento seja progressivo, ou seja, nunca estacionário. A forma pré-senil tem uma evolução mais agressiva, sendo o comprometimento mais rápido e mais intenso.

 

A forma senil é também chamada de esporádica, ocorrendo em cerca de 95% dos casos, e a forma pré-senil, de familial, ocorrendo em cerca de 5% dos casos. Geralmente, nessa forma há uma probabilidade muito maior de ocorrer vários casos na mesma família e antes dos 69 anos de idade. Em relação ao quadro clínico, as modificações são lentas e progressivas, havendo geralmente dificuldade de memória: o primeiro e mais importante sintoma – essa é a forma mais típica. A memória mais afetada é aquela de fatos recentes, do que se viveu ou do que se aprendeu há menos tempo, sendo preservada, inicialmente, a memória antiga, aquela que contém fatos acontecidos há muitos anos na vida do indivíduo.

 

A memória operacional, aquela que permite que alguém guarde transitoriamente uma informação, como, por exemplo, um número de telefone para contar a alguém logo em seguida, também é perdida precocemente. Geralmente os atos automáticos, tais como dirigir um automóvel, manejar um determinado aparelho, dirigir-se a lugares habituais, não são inicialmente afetados. Esta fase da doença, na qual mais haveria o que fazer do ponto de vista terapêutico, geralmente é confundida com envelhecimento normal, atribuída à “idade”, não recebendo, muitas vezes, por parte da família, a devida valorização.

 

O que chama a atenção na doença de Alzheimer é que a piora, embora lenta e progressiva, diferencia-se do envelhecimento normal ou do declínio de memória associado ao envelhecimento. Quando o quadro demencial começa por alterações outras que não as queixas de memória, deve-se pensar em outro tipo de demência que não a doença de Alzheimer. Além da alteração da memória recente, aos poucos também pode ocorrer labilidade afetiva, diminuição da capacidade intelectual, desorientação no tempo e no espaço (o indivíduo se confunde quanto a sua localização em relação ao dia, mês e ano, onde vive ou onde está).

 

Nessa fase, pode-se desenvolver um quadro depressivo e/ou de ansiedade, bastante comuns ao paciente com a doença. Podem ainda existir outros sintomas, tais como
alterações da linguagem (chamada afasia) e alterações de comportamento (ideias delirantes, alucinações visuais e auditivas, ideias de perseguição). É bastante comum a síndrome do pôr do sol, em que o paciente se torna mais confuso, pode-se agitar e querer ir embora. Isso geralmente ocorre ao final da tarde e pode durar algumas horas, deixando desassossegados tanto o paciente como a família.

 

Com o avançar da doença, há comprometimento cada vez maior da memória e do comportamento, com apatia, inquietude, agressividade, perambulação e também incapacidade de controle da bexiga e do intestino, além de incapacidade de cuidar de si próprio. Em fases posteriores, ocorrem alterações posturais, flexão global do corpo, contraturas e ausência das
funções psíquicas superiores, com vida totalmente vegetativa. Sendo uma doença crônica, o tempo de sua duração é bastante variável, podendo atingir até 15 anos ou mais após o diagnóstico inicial.

 

Em relação às alterações comportamentais apontadas, deve-se afirmar que não obrigatoriamente elas ocorrem em todos os doentes. Cada caso é um caso, daí a dificuldade nas comparações entre os diversos pacientes. Também é importante ressaltar que na doença de Alzheimer pode haver uma exacerbação de comportamentos anteriores à doença, pois já não há mais um freio por parte do paciente.

 

No Brasil, estima-se que existam cerca de 2 milhões de indivíduos com demência, muitos dos quais sem diagnóstico, porque ainda se espera muito para tomar providências quando se tem um idoso com problemas de memória. Ainda há preconceitos e até vergonha de se expor um parente com distúrbios de memória e comportamento, optando-se por conservá-lo dentro
de casa e sem tratamento.

 

Quando surgem as alterações de memória, é importante fazer o diagnóstico diferencial com outras situações:

 

    • Com o envelhecimento normal, em que o indivíduo pode apresentar esquecimentos e confusões, no entanto, não há piora progressiva, não alterando o desempenho do indivíduo nas atividades da vida diária e da vida prática.

 

    • Com a demência vascular, na qual, juntamente com os distúrbios da memória e do comportamento, o indivíduo tem antecedentes de doença do aparelho circulatório, tais como hipertensão arterial, acidentes vasculares cerebrais e diabetes. Aqui a doença pode ter períodos estacionários, quando o paciente pode permanecer porlongo tempo estável na mesma situação. A evolução é escalonada (em degraus), conforme ocorram novos comprometimentos cerebrais.

 

    • Com a demência da doença de Parkinson, em que, antes de haver manifestações dos distúrbios da memória e do comportamento, o indivíduo já vem há pelo menos dois anos com sintomas motores, tais como tremores, rigidez, marcha lentificada e com pequenos passos.

 

    • Com a demência dos corpúsculos de Lewi, na qual o indivíduo apresenta simultaneamente alterações de memória não tão proeminentes, mas manifestações motoras semelhantes às da doença de Parkinson e flutuações da consciência em períodos curtos.

 

    • Com a demência frontotemporal (por exemplo, a doença de Pick), em que há deterioração precoce do comportamento social e da personalidade, além de alterações precoces da linguagem, com deterioração da memória de forma mais lenta.

 

 

É preciso frisar que a doença de Alzheimer pode estar associada à demência vascular ou à própria doença de Parkinson, necessitando-se um estudo mais profundo e mais completo do paciente.
Na doença de Alzheimer existe morte neuronal (dos neurônios, que são as células constituintes do cérebro) não por falta de oxigenação nem por falta de circulação local, mas por fatores que ainda não foram determinados.

 

Essa perda neuronal inicialmente não é em todo o tecido cerebral, mas especialmente em regiões localizadas no lobo temporal e parietal, ocasionando diminuição de várias substâncias químicas, especialmente a acetilcolina, considerada a principal substância envolvida no controle da memória. Hoje se sabe que nessa doença há determinadas substâncias que
são produzidas anormalmente e que causam dano e morte cerebral, especialmente a proteína Tau () e a proteína amiloide. Ainda não se descobriu um marcador biológico para a doença de Alzheimer, ou seja, uma substância possível de ser identificada no organismo precocemente e em qualquer idade e que possa sugerir que quem a possui poderá manifestar e desenvolver a doença mais tarde.

 

É aqui que boa parte das pesquisas vem sendo desenvolvida. A idade avançada, a própria hereditariedade, os traumas cranioencefálicos repetidos e a baixa escolaridade constituem os principais fatores de risco para o desenvolvimento da doença. A grande maioria dos casos (95%) é esporádica, especialmente quando acomete os indivíduos após os 65 anos de
idade. Apenas cerca de 5% dos casos mostram-se com herança genética bem determinada, costumando haver manifestação da doença já na quarta ou quinta década de vida. Esses casos geralmente têm uma evolução mais rápida. Já foram identificados vários genes associados ao desenvolvimento da doença. É possível que existam outros fatores de risco, tanto genéticos como ambientais, que podem precipitá-la, mas estes ainda não foram identificados. Mesmo na forma esporádica, as chances de se ter a doença é levemente maior em indivíduos que têm parentesco em primeiro grau com algum paciente. Para se fazer o diagnóstico de doença de Alzheimer, há critérios internacionais que devem ser observados (DSM-5 e CID-10), falando-se sempre em provável ou possível doença, hoje já com probabilidade de acerto em mais de 95% dos casos.

 

Portanto, é um diagnóstico de inclusão, e não de exclusão. O diagnóstico de certeza da doença (definitivo), no entanto, exige comprovação por exame necroscópico (pós-morte).

 

Fonte:

Paulo Canineu (Médico especialista em clínica médica pela sociedade Brasileira de clínica médica e AMB).

Especialista em Gereatria pela sociedade Brasileira de geraatria, gerontologia e AMB. Professor convidado em pós graduação em gerontologia do Centro Universitário São Camilo.

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