Amor e convivência na maturidade

A ditadura da juventude e da beleza na fase madura da vida é uma realidade na nossa sociedade, mas, para os seniores que buscam viver mais, com independência e bem-estar, é possível enfrentá-la mantendo o espírito jovem.

 

Apesar das inquestionáveis mudanças que impactaram nossas vidas e nosso cotidiano nas últimas décadas, como as novidades da indústria farmacêutica, a conscientização sobre a importância da atividade física e da alimentação saudável, observa-se que os reflexos do sistema capitalista orientado para o consumo desenfreado e a supervalorização da aparência exigem que as pessoas sejam jovens, magras e ostentem sinais de riqueza.

 

Ricos, jovens e magros são mais valorizados, gerando um desconforto para os seniores que procuram atenuar esse problema com recursos que a medicina disponibilizou.

 

Parece haver uma briga contra o envelhecimento. Muito embora a maioria dos seniores sinta-se jovem, é difícil conviver com os valores atuais impostos pela sociedade, pois, quando se olham no espelho, se decepcionam.

 

Surge a vontade de adequar o corpo à alma.

 

A maturidade deve ser vista como outra fase da vida, mas muitas pessoas enxergam-na como um problema. Tudo, menos envelhecer. Como se o sênior ideal fosse aquele que não envelhece.

 

Nesse contexto, surgem, por exemplo, os medicamentos que turbinam a vida erótica masculina e causam conflitos graves em alguns casais casados há décadas, cujo normal seria a vida sexual arrefecer. Essa realidade ocorre normalmente com homens bem-sucedidos financeiramente, atraídos por mulheres bem mais jovens através do apelo sexual.

 

É o fenômeno clássico na sociedade ocidental em que as moças usam sua sensualidade e beleza para atrair homens “vencedores”.

 

Aí o homem se casa de novo, a mulher quer ter filho… Ou seja, ele estava vivendo uma vida em que os problemas estavam se equacionando e reinventa uma segunda fase da vida com uma mulher mais jovem que, provavelmente, vai deixá-lo inseguro, porque o tempo passa.

 

Não quero padronizar uma diferença de idade, mas o ideal é que um casal pertença à mesma geração, se possível com uma diferença de idade de no máximo oito anos.

 

As boas relações são calcadas em afinidade. O aconchego não é erótico e, com o passar do tempo, o erotismo tende a arrefecer e com ele também a vaidade e outros elementos da personalidade.

 

Casais que tiveram uma vida sexual com diferenças tendem a viver melhor a partir dos 55,60 anos de idade.

 

Quando o casal é sênior e continua junto, a tendência é a relação melhorar, pois os parceiros tornam-se mais tolerantes e pacientes.

 

E as dificuldades tendem a diminuir, pois já se sabe o desenrolar de muitas inquietações do passado. Se ele tinha ciúme porque ela era bonita… A ternura cresce e o erótico decresce. Mulheres viúvas ficam muito bem sozinhas, bem melhores do que os homens.

 

Raramente se casam novamente e não é porque não existam interessados, mas elas não querem mesmo, talvez porque muitos homens das gerações dos anos 1930,1940,1950 eram chatos, ranzinzas, dominadores.

 

Há uma tendência das pessoas a quererem ficar sozinhas, estimuladas pelo avanço tecnológico, que cria condições de entretenimento.

 

Pessoas que ficam bem sozinhas também avançam moralmente, pois não estão trocando nada com ninguém, nem dando mais do que recebem, tampouco recebendo mais.

 

Essas pessoas são mais equânimes, justas e saberiam trocar melhor numa relação a dois.

 

Na verdade, as pessoas que encontram o aconchego dentro de si mesmas com o seu dia a dia, sua própria casa, não precisam receber amor, muitas vezes idealizado.

 

Essa autossuficiência é um avanço na questão sentimental.

 

O encantamento amoroso entre dois seniores é raríssimo e só ocorre quando eles vivem sozinhos, não são casados ou são viúvos, separados.

 

É interessante que a condição econômica para uma relação de dois seniores não é tão importante como era na juventude.

 

A vida sentimental dos seniores é melhor do que antes.

 

Ô mito é que a velhice deve ser a continuidade da mocidade, com vigor físico, beleza de jovem.

 

O importante é o sênior ser feliz, sem a necessidade de imitar o jovem.

 

Deve-se recriar a vaidade: “Quem não briga contra a idade tem menos exigências em relação a si mesmo”.

 

Manter o corpo sadio e energizado, porém sem o culto radical da beleza.

 

Na maturidade, não se deve renunciar a que o cérebro seja receptivo a novas ideias, pensamentos, projetos.

 

Pessoas que evoluem são aquelas que colocam em dúvida suas ideias e convicções.

 

A maturidade é um período reflexivo de sabedoria. São prazeres de natureza intelectual (agora o tempo é um aliado).

 

O sênior feliz é amigo, solidário, cobra-se menos, não compete consigo mesmo.

 

Ele não é refém da vaidade e, com a maturidade adquirida, respeita e orgulha-se de sua história. Uma das fórmulas do elixir da longevidade é não brigar com a realidade, mas se adaptar a ela.

 

Fonte:

Flávio Gikovate Psicoterapeuta e autor de mais de 30 livros,entre eles “Nós,os humanos” (MG Editores).

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