Automação Residencial, PNE e Tecnologias Assistivas

Nos últimos cem anos, a expectativa de vida da população mundial mais do que dobrou. Se em 1900 viver além dos 40 anos de idade era para poucos, hoje, dependendo da região do globo, é muito fácil de se encontrar grandes contingentes de pessoas com mais de 80 anos de idade. Isso gera consequências para o sistema previdenciário do pais, de modo a se acomodar este crescente universo de pessoas que vai vivendo mais, e cria também outras situações a ponderar: problemas cognitivos (essencialmente, de memória) – que podem se refletir na administração de medicamentos ou de cuidados básicos – e fragilidades físicas- que podem gerar acidentes domésticos (resultando com frequência em quedas e fraturas), por exemplo.

 

Se, por um lado, a vida num lar para idosos, sob cuidados constantes e meticulosos, pode ser uma solução, por outro estas pessoas estão cada vez mais ciosas de sua liberdade e preferem se manter em seus “ninhos”, aos quais já estão bem acostumadas. Esta permanência evita a ansiedade, os traumas e os altos custos que podem advir de uma mudança de moradia e modo de vida. Ao mesmo tempo, pode prover independência, daí advindo confiança e determinação.

 

Para tal, há que se tornar o ambiente acessível, e isto significa não somente a colocação de barras de apoio, tapetes antiderrapantes, cadeiras elevatórias, assentos sanitários adaptados ou remanejamento de interruptores, mas também o acendimento automático de luzes noturnas de suporte, o desligamento automático do de banheiras, cafeteiras e outros equipamentos e utensílios de uso corriqueiro, tudo da maneira mais simplificada possível.

 

Atualmente, há muitas ofertas dos chamados sistemas de emergência pessoal, mas estes dependem de a pessoa estar próxima de botões de acionamento e, claro, de estar consciente. Sistemas automáticos, que são parte da chamada demótica assistiva, podem monitorar continuamente sinais vitais, imagens de câmeras e sensores (como os tradicionais detectores de fumaça, temperatura, inundação e movimento) que detectam as ações da pessoa pela casa, emitindo alertas a parentes ou equipes de socorro, no caso de situações anômalas. Estes sistemas podem também tomar providências locais, como disparar sirenes, desligar registros de gás e água, acender luzes e ligar ou desligar equipamentos pré-determinados.

 

Esta é a Casa Inteligente, que faz parte do novo universo da Internet das Coisas, combinando equipamentos de sensoriamento, robôs de assistência e comunicação remota para assistir os que possuem deficiências físicas ou cognitivas, quer devidas a doenças ou deficiências físicas, quer ao envelhecimento. Os sensores podem estar incorporados às roupas, mobiliário, ou mesmo a equipamentos de higiene e saúde (escovas de dentes, caixas de pílulas etc.). São os chamados sistemas de saúde incorporados, que coletam dados e, a partir deles, confrontam a movimentação (ou ausência dela) do morador com um padrão esperado e alertam sobre mudanças bruscas, gerando uma maior tranquilidade.

 

Como exemplo de ação de um tal sistema, o idoso levanta de noite e, distraído, procura sair de casa. A abertura da porta provoca a emissão de aviso para uma central ou parentes. O sistema assistivo detecta não se tratar de arrombamento e sinaliza a movimentação inesperada, o que pode provocar o envio de uma equipe ou o acionamento do parente mais próximo; ao mesmo tempo, é emitido um alarme sonoro lembrando o morador do horário e pedindo que retorne à cama.

 

Estas checagens e procedimentos podem ser aplicados ao dia a dia da pessoa. Movimentação errática, a caixa de remédios que não foi aberta, o banheiro que não foi acessado e discrepância nos sinais vitais obtidos por sensores próximos ou incorporados à vestimenta do idoso gerarão alarmes e medidas emergenciais poderão ser acionadas automaticamente.

 

Trata-se do aging in place, o envelhecer em seu próprio local, mas com conforto e segurança, uma tendência que vai se consolidando e da qual a sociedade não poderá mais prescindir. Não é um substituto para os cuidados, mas uma suplementação bem-vinda, que, assim como os treinamentos cognitivos, fornecem uma camada adicional de proteção ao crescente universo dos idosos.

 

 

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