Entrevista Dr Ivan Hideyo Okamoto: Sinais de alerta da doença de Alzheimer e recomendações para familiares.

A pirâmide etária brasileira concentra um enorme contingente de pessoas na faixa entre 40 a 60 anos, acelerando o envelhecimento da população que fica exposta a doenças relacionadas ao envelhecimento.

 

Ao contrário da Europa e E.U.A que concentram um percentual significativo de seniores na população e, consequentemente uma maior disseminação da informação sobre as doenças da chamada terceira idade, no Brasil os familiares não  reconhecem os sinais da doença de Alzheimer e Demência Senil nos seus pais, avós, tios, porque não têm referência e informação a respeito.

 

Com o aumento da expectativa de vida dos brasileiros a previsão é que em 2040 nossa população vai se tornar a sexta maior em incidência dessas doenças.

 

Os futuros cuidadores (familiares e profissionais) devem conhecer os primeiros sintomas e a forma como as doenças evoluem para conduzirem o tratamento de modo a preservar o quanto possível a cognição dos pacientes, conferindo-lhes a melhor qualidade de vida possível.

 

Agindo assim os cuidadores também estarão resguardando sua capacidade física e mental, pois, em muitos casos, eles adoecem por conta da dedicação à doença de seus entes queridos.

Segundo o neurologista Ivan Hideyo Okamoto (Graduado em medicina pela USP e coordenador do Instituto da Memória na Unifesp, com mestrado em neurologia/neurociências pela USP, atuando em neuropsicologia, demência, cognição e memória), em entrevista exclusiva para a revista Sempre Jovem, o diagnóstico precoce da doença de Alzheimer possibilita estabilizar as funções cerebrais através medicações e atividades específicas, retardando a evolução da doença entre 5 e 15 anos e preservando a melhor qualidade de vida possível para cada fase em que a doença se encontra.

 

Estudos mostram que a duração de cada fase também é extremamente variável.

Em média o primeiro estágio tem duração de 2 a 10 anos, o segundo de 1 a 3 anos e o terceiro de 8 a 12 anos.

 

 

A cura ainda não foi descoberta.

 

 

Sempre Jovem: O que é a doença de Alzheimer?

 

Dr. Ivan Hideyo:

A doença de Alzheimer é causada por um acúmulo de determinadas proteínas no cérebro que se dá durante décadas antes da sua manifestação e caracteriza-se pela morte de células cerebrais que são responsáveis pela memória, linguagem e comportamento. Ela é progressiva e irreversível. A estimativa de vida para os pacientes situa-se entre 2 e 20 anos.

 

Embora existam casos esporádicos em pessoas por volta dos 50 anos e a prevalência na faixa etária de 60 a 64 anos seja baixa, a partir de 65 anos ela praticamente duplica a cada cinco anos. Depois dos 85 anos de idade, atinge 40% dessa população.

A boa notícia é que novas tecnologias ajudarão no diagnóstico precoce, provocando uma mudança de paradigma. A doença poderá ser tratada de forma assintomática, ou seja, antes que se manifeste.

Como ocorre atualmente nos portadores de HIV, que podem se tratar antes da sua manifestação.

SJ: Qual é a causa da doença de Alzheimer?

 

Dr. Ivan Hideyo:

 

Há um consenso na comunidade médica sobre uma pré-disposição genética conjugada com fatores ambientais para desenvolver a doença, que não é necessariamente hereditária.

Não é normal com o avanço da idade se perder a memória e sim diminuir a velocidade de processamento cerebral, que vai ficando mais lento.

A doença de Alzheimer é um dos tipos de demência e representa mais da metade delas. O quadro demencial caracteriza-se pela perda de funções previamente adquiridas, como a memória, linguagem, capacidade de planejar e capacidade de cálculo.

 

SJ: Como se faz o diagnóstico da doença de Alzheimer?

 

Dr. Ivan Hideyo:

Não há nenhum exame/biomarcador que permita diagnosticar em 100% a doença. O diagnóstico, que considera uma série de exames que excluem outros males, ganhou mais uma peça no quebra-cabeça nos últimos anos, que é a dosagem das proteínas do liquor.

É importante para o médico identificar as queixas que o indivíduo ou a sua família referem e assim é feito um diagnóstico clínico do paciente.

 

São solicitados exames de imagem (ressonância, tomografia) e testes neuropsicológicos.

 

De posse dos exames, testes psicológicos e “afastando-se outras causas”, como alterações hormonais, deficiência de vitaminas, doenças infecciosas, é feita a anamnese (que consiste no histórico de todos os sintomas relatados pelo paciente e/ou familiar) e chega-se ao diagnóstico do Alzheimer, que é uma doença degenerativa.

 

 

SJ: Qual é o tratamento adequado?

 

Dr. Ivan Hideyo:

A associação da mediação com o treinamento cognitivo oferece a melhor resposta para a qualidade de vida do doente de Alzheimer.

A estimulação cognitiva, fisioterapia, musicoterapia, terapia ocupacional, atividade física são exemplos de atividades multidisciplinares que ajudam os pacientes.

De forma equivocada, muitos acham que por se tratar de uma doença sem cura não há nada que possa se feito.

Pelo contrário, o paciente com a doença de Alzheimer, juntamente com cuidadores familiares e profissionais, deve enfrentar a doença.

Sem estímulos adequados, ele tende a não se arriscar temendo fracassar e perde a oportunidade de viver mais e com melhor qualidade de vida.

 

SJ: Quais são as fases da doença de Alzheimer e respectivos sintomas?

 

Dr. Ivan Hideyo:

 

Primeira fase – Leve

Nesse momento, os familiares devem procurar um médico neurologista, geriatra ou psiquiatra.

– Perda de memória de curto prazo.

– Esquecer-se das palavras mais simples ou utilizá-las inadequadamente tornando as frases de difícil compreensão.

– Comprometimento das funções habituais, com dificuldade para a realização de atividades rotineiras, como cozinhar, jogar baralho, esquecimento da comida no fogão (ou mesmo se almoçou, jantou).
– Incapacidade para executar tarefas domésticas e quantificar valores.
– Desorientação de tempo e espaço.
– Os esquecimentos se agravam quando o doente é obrigado a executar mais de uma tarefa ao mesmo tempo.

– A perda de memória é progressiva e a incapacidade para lembrar fatos recentes contrasta com a facilidade para recordar o passado.

 

Segunda fase – Moderada

É necessário ter “sempre” alguém ao lado.

 

– Perda da iniciativa, passividade e necessidade de estímulos para interagir.

– Desorientação, como não saber onde está e como voltar para casa, mesmo estando na própria rua.
– Discernimento fraco, não reconhecer uma infecção, usar roupas quentes no calor.
– Trocar as coisas de lugar sem lógica (colocar o ferro de passar roupa na geladeira ou um relógio de pulso no açucareiro).
– Esquecer completamente o uso dos números e dados. Não compreender o que é um aniversário.
– Alterações de personalidade, humor e comportamento.
– Confusão mental com desconfiança, silêncio, apatia, medo, agressividade. Da serenidade ao choro ou angústia sem motivo aparente.
– Prevalece a dependência para atividades do dia a dia.

Terceira fase – Grave

– Os pacientes acabam por não reconhecerem os próprios familiares e até a si mesmos.

– Perda total da capacidade de falar, ler e escrever.
– Totalmente dependentes para higiene pessoal e alimentação.

 

Fase terminal

 

Entregue e dependente o organismo não resiste às consequências da doença, como pneumonia, infecções urinárias e dificuldade da deglutição de alimentos, que pode levar o paciente a engasgar e provocar bronco espasmo.

 

Prevenção

É importante que a sociedade conheça as práticas preventivas que adultos devem seguir para garantir a saúde mental, tais como ler livros, fazer atividade física, caminhadas, dedicar-se a pintura, praticar jardinagem, resolver quebra-cabeças, experimentar coisas novas, organizar sua agenda, adotar uma dieta saudável e não se afastar dos amigos e da família.

 

SJ: Quais são as recomendações para os cuidadores de pacientes com a doença de Alzheimer?

 

Dr. Ivan Hideyo:

É normal que se sinta tristeza pela sensação de que pouco a pouco se vai perdendo alguém que lhe é muito querido.

Também é comum sentir alguma frustração, pois se tem a consciência de que todos os seus cuidados, atenção e carinho não impedem a progressão da doença.

O cuidador pode sentir culpa, porque nem sempre conseguirá manter a paciência com o doente. Pode também sentir solidão, pelo afastamento gradual da família e dos amigos e pela impossibilidade de deixar o doente sozinho.

Lembre-se que a sua presença, a sua ternura e o seu amor são indispensáveis.

SJ: Quais são os fatores importante para a decisão de internar um paciente com a  doença de Alzheimer?

 

Dr. Ivan Hideyo:

A maioria dos cuidadores familiares já pensou em internar o paciente em instituições de longa permanência, mas não o fez por um sentimento de gratidão.

 

Trata-se de uma retribuição para quem os colocou no mundo ou lhe foram muito caros.

 

Alguns fatores importantes devem ser levados em conta no momento em que nos deparamos com um familiar com a doença da Alzheimer.

Afeto e carinho fazem toda a diferença no tratamento.

 

Quanto mais o cuidador for bem informado sobre a doença, melhor será a qualidade de vida do paciente.

O paciente necessita ter alguém permanentemente ao seu lado. Se um familiar decidir ser o cuidador, terá que revezar, pois se trata de uma tarefa estressante.

 

O paciente é totalmente dependente, sem capacidade para se alimentar e tomar banho.

 

O ideal é ter uma pessoa da família sempre ao lado, mas nem sempre isso é possível e viável.

Na decisão de deixar o doente em casa ou interná-lo, deve-se considerar seu temperamento, pois uma personalidade dócil exigirá menos que outra agressiva.

É importante considerar as condições financeiras e psicológicas da família. Muitas vezes o cuidador requer preparo específico para exercer a função.

Em todas as fases da doença é necessário manter uma atitude tranquilizadora, mesmo quando o doente parece não reagir às tentativas de comunicação e expressões de afeto.

 

A ABRAZ (Associação Brasileira de Alzheimer) presta um inestimável serviço por essa causa e mantém grupos de apoio espalhados pela cidade que são muito úteis para familiares de doentes de Alzheimer trocar experiências.

 

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