Envelhecimento

Podemos definir o envelhecimento como o conjunto das alterações estruturais e funcionais do organismo que se acumulam progressiva e especificamente em função da idade.

 

Em uma sociedade que se distingue pela velocidade e que exalta a juventude, os velhos não têm situação invejável, pois lhes falta elasticidade, agilidade, destreza, e ainda sofrem com limitações físicas. Ademais, há as dificuldades implícitas na própria velhice, tais como o medo da solidão; desamparo; perda de parentes e amigos; consciência da aproximação da morte; limitações psicológicas; regressão a comportamentos relativos a padrões já superados, obviamente pertencentes à sua juventude, à adolescência e até à sua infância. Todas essas circunstâncias dolorosas têm o potencial de condicionar, no velho, aspectos psicológicos que lhe são peculiares e específicos.

 

Se os traços narcísicos preexistentes na personalidade forem muito acentuados, mais difícil será a aceitação do envelhecimento.

 

O enfraquecimento intelectual, a diminuição do pensamento criador, as dificuldades para novos aprendizados, a crescente incapacidade para resolver situações novas são fatores que podem alterar a personalidade dos idosos, levando-os a assumir atitudes compensatórias, manifestadas como rigidez e conservantismo, obstinação, teimosia, comportamentos defensivos, hostilidade e agressividade.

 

O indivíduo maduro, que sabe envelhecer, desfruta a vida dentro de suas limitações e utiliza a sua experiência e sabedoria a seu favor e para auxiliar aqueles que o cercam.

 

A religiosidade aumenta nos velhos, mesmo para aqueles que seguiram uma vida de ateísmo, como que colorindo uma etapa final por um misticismo que ressalta o medo como pano de fundo.

Hoje, o conhecimento está nos computadores, e a expectativa de vida cresceu muito. “Velho” passou a ser até uma palavra pejorativa, pelo menos politicamente incorreta.

 

O conceito de velhice baseado exclusivamente no nível etário é muito relativo, pois a evolução da medicina alonga continuamente os limites da vida, fazendo com que o velho de ontem seja o jovem de hoje.

 

Precisamos ter paciência com os idosos, que, em muitos casos, convivem com incapacidade cognitiva, instabilidade (perturbação do equilíbrio), incontinência urinária e/ou fecal, imobilidade (devido à perda de massa muscular) e alterações patológicas, principalmente em razão dos efeitos colaterais das medicações.

 

Envelhecer é novo em nossa cultura e não temos modelos para o envelhecimento brasileiro. Assim, o envelhecimento e seus caminhos vivos ainda não fazem parte de nossa consciência coletiva. Não temos, ainda, reflexão suficiente para trocarmos os preconceitos por conceitos.

 

Uma das vicissitudes do envelhecimento são as mudanças corporais. Desde a gengiva superior que sobe com a retração, passando pela alteração do peso corporal, pressão arterial, colesterol e outras coisas indesejáveis. Há o declínio dos órgãos, dos sistemas e de nossos mecanismos adaptativos. Vêm as limitações associadas às modificações. As doenças, com frequência, deixam seus sinais; a recuperação é mais lenta.

 

A mudança no funcionamento hormonal é marcante. A libido diminui, trazendo o risco de estreitamento das vivências prazerosas ou mesmo lúdicas.

 

Se a aposentadoria não for bem preparada, podem surgir sérias complicações, principalmente para os homens, que, em nossa cultura, têm dificuldade com a rotina do lar. Para o casal, a perda de poder, da esfera de influência e da rotina de trabalho traz a sensação de vazio, agravada pelas perdas econômicas e/ou financeiras e pela queda de padrão de vida, as quais trazem situações estressantes.

 

Os filhos vivem suas próprias vidas e podem deixar aos pais a sensação de “ninho vazio”, como também o fenômeno do descasamento pode trazê-los de volta para um “ninho superlotado” de filhos adultos sofridos, tornando a situação difícil.

 

As brigas e desavenças entre filhos adultos pesam sobre o psiquismo de pais envelhecestes tanto quanto as brigas entre pais pesam sobre o psiquismo de filhos pequenos.

 

Com frequência, falta aos filhos adultos a consciência do sofrimento de seus pais diante das guerras fraternas. O pior é que às vezes pais idosos são solicitados para atuar inclusive como juízes das disputas fraternas, seja por dinheiro, poder ou mesmo afeto. Confundindo papéis, muitas vezes, os filhos adultos querem mandar nos pais idosos.

 

Enfim, o idoso viverá o contínuo desapego de situações que anteriormente foram muito cheias de vida. Esse despedir-se nem sempre é fácil.

 

A nossa espécie tem que conviver com a consciência da finitude, mas sem saber quando nem como. O idoso sabe que está mais perto dessa espécie de hora H, o que não é mesmo fácil, principalmente em uma cultura que, como a nossa, nega a morte.

 

A senescência, ao contrário da adolescência e de outras fases da vida, não está ainda na consciência coletiva. Portanto, não temos rituais nem percepção; assim, não temos compreensão nem aceitação. Como a senescência é emocionalmente complexa, faz falta essa compreensão/aceitação, seja pela cultura, seja pelo próprio idoso.

 

 

Muitas vezes, a tentação ao envelhecer é mesmo a de se sentar sobre os louros das coisas já conquistadas, já realizadas e recusar o novo, impedindo a transformação, essencial para a qualidade de vida.

 

Vários são os fatores de risco que potencializam os transtornos típicos do envelhecimento. A qualidade de vida, se boa, funciona como fator de proteção, e, se ruim, como fator de risco.

 

Depressão

 

Se, por um lado, o desapego é importante símbolo no envelhecer, por outro, ele é diferente de perda. Desapegar-se de muitos comportamentos de fases de vida anteriores não é o mesmo que perder a capacidade de transformação e renovação.

 

Transtorno do Estresse Pós-Traumático

 

Ocorre em função da perda abrupta de um ser querido. Também pode ser desencadeado por abuso protetor, controlador, geralmente familiar, em momentos em que o idoso ainda pode tomar decisões por si mesmo (onde morar, com quem e como viver).

 

Outras vezes, uma enfermidade que requer hospitalização prolongada pode assustar muito o idoso, em vista da possibilidade de separação da família

 

Adição e ansiedade

 

Abusos de substâncias (álcool, etc.) ou jogos. Geralmente, há um quadro de ansiedade e um conflito entre algo a ser evitado e algo a ser buscado, trazendo muita ansiedade.

 

Gerontocracia

 

Quadro frequente no(a) mandão(ona), poderoso(a) e dono(a) da verdade.

 

É o idoso que não aprende o novo, insistindo em padrões ultrapassados. É claro que é importante que as conquistas durante a vida sejam reconhecidas e comemoradas, mas a fixação nessas memórias, às vezes, faz o idoso ser tomado pelo complexo do poder, impedindo sua transformação, o que requer desapego e humildade, além de luta, reflexão e contemplação.

 

Tanatofobia

 

São quadros em que o idoso fica tomado pelo medo da morte. Com frequência, tornam-se hipocondríacos, com muito medo de doenças físicas, medo da morte concreta e, consequentemente, medo da vida.

 

Puer aeternus

 

Ficam fixados no jovem. São os que não aceitam envelhecer. Geralmente, competem com os filhos ou tentam se enturmar com eles, frequentando os mesmos lugares, usando as mesmas roupas, linguagem, comportamento.

 

Pais eternos

 

Ficam fixados no papel de filhos pequenos, mesmo estes já sendo adultos. São infantilizadores de filhos e netos, superprotetores, competindo pelos papéis parentais com seus filhos, noras e genros, progenitores de seus netos. Provocam nos filhos, às vezes, quadros de adolescência tardia, com resultados por vezes perigosos.

 

Inversão de papéis

 

O idoso torna-se como se fosse filho de seus filhos. Geralmente, elege-se um filho ou uma filha para ser seu cuidador. Nesse papel, o idoso pode ficar chantagista, buscando sempre fazer o outro se sentir culpado, usando o “poder da vítima” para controlar as atenções do sistema familiar.

 

Para uma boa qualidade de vida no envelhecer, é importante que possamos passar de um funcionamento em nossa cultura tão baseado no “herói da ação” para um “herói da contemplação”, seja com relação ao outro, seja com relação a nós mesmos.

 

Aspectos Biológicos do Envelhecimento e suas Repercussões na Prática Médica

 

O movimento coletivo tem buscado romper os limites impostos pela Biologia, almejando dilatar o tempo de vida e tentando retardar não só a morte, como o próprio envelhecimento. Ao lado disso, com o aumento da população mais velha, a cultura vai abrindo caminho, o velho vai buscando novos espaços e sua presença pode ser cada vez mais notada em eventos sociais, esportivos, culturais, científicos, artísticos e educacionais. É o Novo Velho que desponta!

 

Cada vez mais, os profissionais de saúde são requisitados para atender às necessidades dos idosos por mais qualidade de vida.

 

Os médicos são treinados a diagnosticar e a curar doenças. Mas, com relação ao idoso: o que é doença e o que é normalidade? Que parâmetros devem ser observados a fim de se visualizar a tênue linha que separa essas duas situações e nortear a conduta? Como separar o que é fruto do envelhecimento do que é uma doença em um idoso?

 

Conforme envelhecemos, ficamos cada vez mais vulneráveis às mudanças do meio ambiente. Não é um corpo doente, mas um corpo que tem mais dificuldade em se defender das agressões externas.

 

Para se tratar e diagnosticar um idoso, é fundamental levar em conta onde e como ele vive, suas relações familiares, sociais, etc. O papel do médico é fortalecer a capacidade de superação do idoso, identificando e tratando os problemas remediáveis e facilitando as adaptações ao ambiente.

 

Assim, o atendimento médico ao idoso pode ser dividido em duas vertentes:

1- Avaliação clínica

Consiste na detecção de problemas remediáveis: identificar e corrigir distúrbios que podem ser tratados.

2- Avaliação funcional

Procurar estruturar um ambiente que possibilite a atuação do indivíduo com o máximo de autonomia.

AVALIAÇÃO CLÍNICA: alterações associadas ao envelhecimento

 

Composição corporal

 

A relação entre massa muscular, massa óssea, tecido, tecido adiposo e água no organismo do idoso é bastante diferente daquela encontrada no adulto jovem, com muitas repercussões no modo como se manifestam as doenças, assim como na farmacocinética das drogas.

 

A redução da proporção de água corporal resulta em menor sensação de sede, tendência à desidratação, aparecimento de hipotensão ortostática, aumento do potássio e diminuição do sódio.

 

Há uma redução de massa muscular geral.

 

Há um aumento de massa adiposa geral, mas com diminuição da gordura subcutânea e aumento da gordura visceral abdominal.

 

A farmacodinâmica das drogas em idosos difere drasticamente da dos adultos jovens. Os fármacos hidrossolúveis tendem a alcançar concentrações mais altas, e há um aumento da meia-vida das drogas e vitaminas lipossolúveis.

 

Alterações gastrintestinais

 

O idoso tem uma tendência à desnutrição por uma série de motivos: menos paladar, favorecendo a anorexia; menor produção de saliva e dificuldade de mastigação por problemas dentários. A menor produção de ácido clorídrico pelo estômago dificulta a absorção da vitamina B12, de ferro, cálcio, ácido fólico e zinco. Também a ineficiência dos mecanismos reguladores da fome, da sede e da saciedade e até a dificuldade na obtenção e preparo dos alimentos contribuem para a desnutrição e para a desidratação. Há uma lentidão de todo o trato gastrintestinal. Com isso, a absorção de drogas é mais lenta. O fígado vai perdendo a capacidade de metabolizar e excretar os fármacos, aumentando seu tempo de ação.

 

Sistema imunológico

 

Há redução de 20% a 30% dos linfócitos T circulantes na produção de citocinas e na resposta proliferativa tecidual. Há maior incidência de doenças infecciosas e de neoplasias, menor resposta às vacinas e aumento na produção de autoanticorpos. Isso resulta também em uma menor resposta inflamatória às infecções.

 

Consequentemente, o quadro clínico é frustro, com menor manifestação de dor e febre.

 

Termorregulação

 

O mecanismo de vasodilatação e de vasoconstrição está mais lento e a sudorese diminuída, assim como o metabolismo basal. Há perda da gordura subcutânea e tendência ao sedentarismo. Tudo isso leva a uma tendência à hipotermia. A mensuração da temperatura tem de ser mais prolongada do que no adulto jovem (cerca de 5 minutos). Muitas vezes, há ausência de febre. Temperaturas de 37,2C ou um pequeno aumento da temperatura basal já podem indicar processo infeccioso-inflamatório.

 

Sistema Cardiovascular

 

Há um alongamento na tortuosidade das artérias e um espessamento das paredes arteriais, resultando em redução dos pulsos distais e dificuldade na medição pelo esfigmomanômetro. É preciso avaliar a pressão, palpando concomitantemente o pulso, a fim de se evitar uma subestimação da avaliação. Também pelo enrijecimento das artérias a pressão se eleva, especialmente a sistólica. O espessamento das válvulas cardíacas gera sopros sem significados clínicos. Há uma redução do débito cardíaco e menor aumento da frequência cardíaca diante de sobrecargas como exercício, dor ou infecção. As arritmias são comuns e nem sempre têm repercussões clínicas. Os vários mecanismos de manutenção da pressão ficam mais lentos, favorecendo a hipotensão postural.

 

Sistema Renal

 

O aumento progressivo do número de glomérulos anormais e a redução de até 50% do fluxo sanguíneo renal levam a uma diminuição importante da filtração glomerular. Há também uma redução na capacidade de concentração e acidificação da urina e maior sensibilidade a agentes nefrotóxicos. A menor depuração da creatinina, associada à diminuição da massa muscular, torna essa substância menos indicativa da função renal real.

 

Sistema Urinário

Há uma diminuição da complacência vesical e uma hiporreflexia do detrusor. Disso resulta a incidência comum de incontinência urinária e noctúria. A retenção urinária pode ocorrer no homem devido à hipertrofia da próstata.

 

Sistema Reprodutor

 

No homem, a deficiência hormonal leva a uma ereção menor e mais curta, com ejaculação mais fraca. No entanto, a fertilidade persiste. Já a mulher perde a fertilidade com a menopausa. A deficiência estrogênica acarreta ressecamento vaginal, resultando em dor na relação sexual, vaginites, além de infecções urinárias repetidas.

 

Sistema Respiratório

 

Há uma redução da complacência pulmonar e uma expiração mais longa, dificultando a ausculta pulmonar. Crepitações podem ocorrer sem significado clínico. A redução da atividade dos cílios e do reflexo da tosse favorece as pneumonias, no entanto, pode não haver um aumento expressivo da frequência respiratória quando da falta de oxigenação, e, por conta da diminuição no reflexo da tosse, uma pneumonia não necessariamente é acompanhada de dispneia e tosse produtiva.

 

Sistema Musculoesquelético

 

Em razão da degeneração da junção neuromuscular, ocorre uma redução de massa e forca musculares. Da diminuicão do conteúdo hídrico geral decorre a rigidez das cartilagens e discos intervertebrais. Tudo isso leva a uma progressiva redução da atividade física e a uma consequente tendência a quedas. Há perda de cálcio dos ossos, favorecendo as fraturas.

 

Visão

 

Há redução na acomodação visual, na acuidade, na percepção das cores e da profundidade. O diâmetro da pupila diminuído e a catarata limitam a eficácia do exame de fundo do olho e a avaliação da ação de certas drogas.

 

Audição

 

As alterações degenerativas dos ossículos e a perda dos neurônios auditivos levam a uma redução da percepção em frequências altas (agudas) e da discriminação dos diferentes tons.

 

 

Sistema Nervoso

 

Há redução da massa cerebral global em até 10%, redução do fluxo sanguíneo em 20% e dilatação dos ventrículos cerebrais. Há o aparecimento de placas senis nos exames de imagem do cérebro, as quais não têm significado clínico. A redução no número de neurônios cerebrais, cerebelares e medulares, assim como a diminuicão da produção de neurotransmissores, leva a uma lentificação da condução nervosa, com consequente perda no desempenho psicomotor, com influência na marcha, no equilíbrio, na memória e no raciocínio.

 

Sistema Endócrino

 

Ocorre, normalmente, redução da tiroxina e da testosterona livre e elevação da insulina, da noradrenalina, do paratormônio e da vasopressina.

 

AVALIAÇÂO FUNCIONAL

 

A avaliação funcional visa determinar o grau de autonomia do idoso. Devemos estar atentos a todos os elementos que possam mantê-los o mais ativo e independente possível. Dividimos as funções em dois grupos, um referente às necessidades básicas fisiológicas e outro às necessidades mais ligadas à interação social do idoso.

 

Atividades Básicas da Vida Diária

 

Banhar-se, alimentar-se, vestir-se, transferir-se, usar o banheiro, manter a continência.

 

Atividades Instrumentais da Vida Diária

 

Escrever, ler, cozinhar, limpar, fazer compras, usar o telefone, controlar a medicação, controlar o dinheiro, executar tarefas fora de casa, lavar e passar roupas.

 

Graduamos o desempenho de cada item em três níveis:

  1. Capacidade de realizar a tarefa sem a ajuda de outras pessoas.
  2. Capacidade de realizar a tarefa com a ajuda de outras pessoas.
  3. Incapacidade de realizar a tarefa, mesmo com a ajuda de outras pessoas.

 

Da teoria à prática

 

Em última instância, promover a saúde do idoso consiste muito na procura por preservar o máximo possível de sua autonomia, seu bem maior, o que realmente lhe dá autoestima e bem-estar.

 

O PROCESSO DO ENVELHECER

 

Envelhecimento é o conjunto de alterações que ocorrem progressivamente na vida adulta e que frequentemente, mas não sempre, reduzem a viabilidade do indivíduo. O envelhecimento será bem-sucedido quando houver baixa suscetibilidade a doenças, elevada capacidade funcional (física e cognitiva), postura ativa perante a vida e a sociedade e, ainda, boa adaptabilidade às mudanças subjetivas e objetivas. O envelhecimento será mais frágil quando houver maior vulnerabilidade em geral, com baixa capacidade de suportar fatores de estresse e com maior suscetibilidade a doenças e a síndromes geradoras de dependência.

 

Nossa cultura não está preparada para lidar com esses “novos velhos”, tão diferentes dos antigos. De modo geral, esses “novos velhos” são mais saudáveis, mais bem dispostos e têm melhores condições físicas e mentais para desfrutar de uma vida mais rica, criativa e prazerosa. Preconceitos socioculturais, na medida em que atuam de forma genérica e coletiva, muitas vezes, pressupõem injustas limitações nos mais diversos campos de atividade do velho. Podem, assim, restringir ou impedir ao “novo velho”, muitas atividades para as quais está perfeitamente apto.

 

Envelhecimento e sexualidade

 

Como em todas as áreas, o envelhecimento traz modificações na vida sexual indivíduo.

 

Dois grandes preconceitos são ainda muito fortes: disfunção erétil para o homem e desinteresse com ausência de desejo sexual para a mulher, ou seja, empobrecimento da vida sexual para ambos ao envelhecerem.

 

É indiscutível que o envelhecimento traz transformações na vida sexual, as quais, muitas vezes, são vistas como perdas e não como alterações naturais da velhice.

 

Algumas consequências biológicas, decorrentes de deficiências hormonais, podem ser corrigidas ou compensadas, graças, por exemplo, à reposição hormonal.

 

Para a mulher, há o climatério, e, em alguns casos, ocorrem sintomas ligados à involução ovariana e à falta de estrogênio, como fogachos e atrofia vaginal.

 

No homem, a síndrome de andropausa, que não é universalmente aceita, é menos caracterizada, instalando-se de maneira menos dramática que a -menopausa na mulher.

 

Toda transformação implica a morte simbólica de um padrão “velho” para que haja o renascimento de um padrão “novo”.

 

Como “ser velho” em nossa cultura é ainda um fenômeno novo, conhecemos pouco esse novo padrão de sexualidade, no entanto, podemos observar uma diferença no ritmo e nos fatores estimulantes do desejo, maior sensibilidade à delicadeza amorosa e talvez mais profundidade.

 

A importância da vida sexual no envelhecimento é grande e não deve ser descartada.

 

Obviamente, como em qualquer fase da vida, a troca concreta de parceiro(a) pode renovar e reanimar a vida sexual, mas está longe de ser o único caminho. A espontaneidade, aspecto riquíssimo para a sexualidade, pode estar mais presente, já que a mulher não tem mais a obrigação de transar com o marido e este não se sente mais obrigado à “assinar o ponto”.

 

 

Envelhecimento e aposentadoria

 

A senescência é, sem dúvida, um período em que podem vir à tona carências e afastamentos sociais frequentemente agravados por uma perda de poder, que pode ser objetiva ou subjetiva.

A aposentadoria, justamente no momento em que podemos aproveitar melhor o tempo, traz, muitas vezes, a sensação de menor potência, de perda de valor.

 

É difícil superar o preconceito de que o homem mais velho não é mais produtivo e está ultrapassado. Assim, ele fica praticamente alijado do mercado de trabalho após os 60 anos de idade. Muitos profissionais com plena capacidade, com grande experiência e sabedoria, veem-se obrigados a se retirar da vida profissional e, ao se “aposentarem” caso não se reciclem, ficam sem atividade, sem realizar sonhos e desejos que a vida atribulada até então não lhes permitiu. Como já falamos, para a mulher, o processo é mais suave, pois está mais familiarizada à sociabilidade da família, com os cuidados da casa e atividades sociais.

 

Além do enfrentamento do preconceito, é fundamental que se criem atividades novas, nas quais a sabedoria e a experiência podem ser extremamente úteis.

 

A criação de novas atividades de lazer específicas para a terceira idade também é necessária. Além disso, o aproveitamento do profissional com mais de 60 anos de idade pode ser enriquecedor em qualquer área do conhecimento ou da produção, dada a experiência acumulada pela senioridade.

 

Assim, a vivência de perda de poder, prestígio e status pode ser administrada como parte do processo de transformação existencial, passando do poder executivo para o conselho nas diferentes áreas.

 

A vivência do poder e vigor e o sentimento de continuar vivo e atuante são de capital importância na vida conjugal.

 

Envelhecimento e perdas

 

Ao envelhecer, é importante saber lidar com as perdas objetivas e subjetivas, às vezes, muito dolorosas. Poder, economias, renda, autonomia…

 

Para a mulher, o fenecimento da beleza física é, muitas vezes, mais difícil que para o homem, principalmente se ela deu muita importância a esse pilar durante a vida pregressa.

 

Para o homem, a perda do poder patriarcal costuma ser mais pesada.

 

As perdas afetivas trazem sofrimento. Morrem amigos, familiares, entes queridos, dos quais é necessário desapegar.

 

A aproximação da morte remete a medos e a ansiedades, mas também é uma oportunidade de trazer maior valorização do tempo de vida pela frente.

 

Envelhecimento e casamento

 

Cada vez mais, somente se mantêm aqueles casamentos que valem a pena; são casamentos vivos, criativos, de individualização, em que os cônjuges têm espaço para realizar seus potenciais instintivos e espirituais. Encerram-se, de maneira mais fácil, os casamentos de acomodação, rígidos e paralisados, em que os cônjuges não inspiram um ao outro nem ajudam mais o companheiro a se desenvolver e a se realizar como indivíduo.

 

Nessa nova realidade, o homem não se restringe a ser o “filho” da mulher nem somente o pai provedor. A mulher não se restringe a ser “filha provida” nem a “santa mãe” (do marido).

 

O vínculo do casal pode ser o mais rico, complexo e duradouro de nossa existência. Juntamente com as amizades, o cônjuge é o vínculo que podemos escolher em nossas vidas, fazendo parte de nossa “família psicológica”, como denominou Jung.

 

Para que o casamento envelheça criativamente é necessário que ele tenha, estruturada entre os cônjuges, uma relação de amor nos diferentes dinamismos e vínculos.

 

Com o convívio, a paixão acaba o que não deixa de ser positivo, já que é idealizada. Vem então o grande desafio de se construir uma relação amorosa ou terminar um relacionamento que não resistiu ao confronto com a realidade. É sempre possível e desejável que haja momentos de reapaixonamentos e de revitalização da relação conjugal; uma força nascente, se o casamento está se transformando.

 

Com os filhos já fora de casa, o casamento pode representar acomodação ou trazer a renovação do “enfim sós”, fase propícia para renovação do relacionamento e reapaixonamento.

 

Continuar “companheiros de vida” de maneira verdadeira, apesar das mudanças inevitáveis na vida de ambos, é um caminho muito rico, embora complicado para a individualização dos cônjuges, que caminham em paralelo, um do lado do outro.

 

Podem ocorrer crises em função dos chamados da vida para vivências que colocam em risco a união. Mesmo assim, há cônjuges que conseguem recriá-la.

 

Também no casamento de seniores, a vida sexual dependerá das opções do casal, graças à reposição hormonal para ela e aos medicamentos para disfunção erétil para ele.

 

infelizmente, em muitos casos, o casamento não se recria nem acaba permanecendo falsamente vivo, com acomodação, numa relação de aparências, falsificando e anulando a vida do casamento.

 

Para o casal que se ama de verdade, o envelhecimento do casamento não implica sua deterioração, mas sim, sua transformação.

 

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