JANE FONDA, A SENIOR QUE CONQUISTOU A INDEPENDÊNCIA

Septuagenária e “cheia de vida e bem-estar”, como ela mesma diz, em entrevista para a ”Folha de S.Paulo”, Jane Fonda, com 76 anos, não pensava viver tanto.

 

Pois viveu e acumulou experiência e sabedoria para nos presentear com o livro “O melhor momento”, que Sempre Jovem indica para seus leitores e traduz no formato perguntas e respostas, através de momentos importantes nesta e em outras matérias nas próximas edições, tal é a qualidade da experiência acumulada dessa sênior exemplo de vida.

 

Sempre Jovem – Qual é a receita para o envelhecimento feliz e saudável?

 

Jane Fonda: Uma boa alimentação, caminhada, ginástica, tudo ajuda, mas nada é mais necessário do que a satisfação interior. A gente só lamenta o que não faz. Não estou falando só de satisfação física. É importante dizer a quem você ama o sentimento que tem. Antes me guardava. Agora me derramo com minha filha. Com planejamento, cuidado, não há o que temer. Mas, sem dinheiro, com doenças graves, a velhice pode ser um fardo. Um inferno. O importante é se manter divertida e ativa, e a atividade inclui o sexo (sua receita: testosterona gel. É mais importante se manter interessada do que ser interessante. 

 

SJ: Estudos mostram que, em média, 34 anos foram acrescentados à nossa expectativa de vida, saltando da média de 46 anos para 80! O que representa esse acréscimo?

 

JF: Representa uma segunda vida adulta totalmente nova, e a decisão de enfrentá-la ou não muda tudo, inclusive o significado do ser humano. Enfrentar o medo me fez perceber que o conhecimento do que há adiante pode me fortalecer e me ajudar a superar os medos, jogando um balde de água fria na ansiedade. Quando damos nome a nossos medos, trazendo-os à tona e os examinando com atenção, eles se atenuam e se enfraquecem.

 

Gerontologistas aprenderam com seus estudos sobre idosos que acontecimentos traumáticos como viuvez, menopausa, a perda de um emprego e até a iminência da morte não são vividos como traumas se revistos em essência, ensaiados como parte do ciclo da vida.

 

SJ: Como ter qualidade de vida no último terço da vida?

 

JF: Saber se planejar pode ser um fator crucial para que a pessoa parta para um novo crescimento no último terço da vida ou sucumba à estagnação, patologia e desespero. “Eu queria estar preparada e dizer a mim mesma e a você: vamos aproveitar ao máximo os anos que nos levam da meia-idade ao fim e vamos descobrir como”. Um terço da possibilidade de vivermos mais depende da nossa genética e foge ao nosso controle. O bom é que isso significa que, talvez por dois terços do arco da vida, só dependemos de nós mesmos. Com preparo e conhecimento, com informação e reflexão, podemos tentar aumentar as probabilidades de termos sorte e de tornarmos nossas últimas três décadas a época mais pacata, generosa, amorosa, sensual e transcendental de todas. E traçar planos para esse período, principalmente durante a meia-idade, pode nos ajudar a chegar lá.

 

SJ: Quais são as características do Terceiro Ato?

 

JF: Ao contrário da infância, o Ato III é uma época de maturação silenciosa. Precisamos de tempo e experiência e, sim, talvez da inevitável desaceleração. 

 

Por mais que eu aprecie o valor da persistência, ocorre-me que, no Terceiro Ato, parte da troca do ego pela alma exige mais flexibilidade do que perseverança – por exemplo, para avaliar quem e o que nos cercam e analisar se devemos abrir mão de alguém ou algo. É o nosso momento da poda. Não quero me tornar uma boba velha e vazia, desperdiçando a preciosa energia vital que ainda me resta em coisas que não servem a essa fase da vida.

 

São necessárias flexibilidade e uma dose de coragem para destacar o entulho, os aparatos, as obsessões, as atividades, as coisas ou pessoas que não se adéquam a quem você é agora ou quem deseja se tornar.

 

Se o nosso objetivo for despertar para uma nova etapa – trazendo à tona a sabedoria, lidando com nossos vícios, nossa “antiga” conduta, questionando o poder e a beleza mecânicas/artificiais-para nos aprofundar na descoberta do sentido da vida e manifestá-lo com compaixão, então o envelhecimento poderá ser um processo positivo, encaminhando-nos aos nossos objetivos e não os deixando para trás.

 

SJ: Qual a diferença do envelhecimento nesta geração e nas gerações passadas?

 

JF: Meus avós não passavam a impressão de que aproveitavam a possível vitalidade que podemos esperar agora. Não chegaram à maturidade com consciência da importância dos exercícios aeróbicos e com pesos para manter o metabolismo acelerado, ou da importância de manter o peso sob controle, e os músculo e ossos fortes.

 

Nossa geração é a responsável pela mudança, pela reinvenção do último terço da vida, e não faremos isso só por nós mesmos. Isso acarretará uma mudança sísmica para o mundo que nos rodeia e, acima de tudo, para nossos filhos e jovens amigos.

 

SJ: Como devemos enfrentar nosso passado?

 

JF: Os fracassos dos quais fugi não me ensinaram nada. Aqueles que enfrentei, abracei e compreendi foram os que me permitiram grandes avanços. Não há recompensa que não tenha custo.

 

SJ: Quais os maiores aprendizados e metas?

 

JF: Vi o que desejava fazer no Ato III: manter a melhor forma e saúde possíveis; reparar as desavenças que tinha com pessoas de quem sentia que devia ser mais próxima; aprender a evitar o estresse e a ser mais paciente; liderar com um coração amoroso; continuar sendo útil e engajada nas questões mais importantes para mim, como ajudar adolescentes a ver um futuro brilhante para si próprios e acabar com a violência contra mulheres e meninas. Vi o que desejava parar de fazer: julgar pessoas que discordavam de mim; ser impaciente. O perdão e a gratidão são o cerne de tudo. Fui capaz de ver a quantidade de pessoas que me deram muito, que acreditaram em mim mesmo quando eu não acreditava.

 

SJ: Como é a Jane Fonda após essas reflexões?

 

JF: Hoje não sofro mais do complexo do “coitada de mim”; não existe mais uma manta de pessimismo. Já não reajo aos dramas atuais com meu próprio drama, em parte por ter substituído o estresse pelo distanciamento.

 

SJ: Então, o processo de “revisão de vida” é essencial para a compreensão e o perdão?

 

JF:O que aprendi com a revisão de vida é que, embora não possamos anular o que já aconteceu, podemos mudar a forma como entendemos os fatos e nos sentimos diante deles, e isso muda tudo. Se pudermos atribuir novos sentidos a situações estressantes, poderemos evitar realmente as reações bioquímicas e hormonais que danificam nosso sistema, principalmente com o avançar da idade. A ideia é que você entenda quem sente que é nos recônditos da alma, experiências boas e apavorantes na escola quando criança, em casa com os pais. Deixe as ideias fluírem para curar as feridas da juventude com a clemência da velhice. A compreensão vem primeiro, antes que o perdão seja possível. Com o intuito de perdoar, atravesse cada fase da vida, pense nas experiências difíceis e também nas pessoas que o emocionaram e guiaram com bondade e amor e agradeça a elas, no coração, no corpo, na escrita. Seja a pessoa que rompe o ciclo. A revisão de vida pode ser o caminho para nos despir tanto do ódio como da postura de vítima, para deixar a dor ir embora e encontrarmos nossa identidade verdadeira. 

 

SJ: O que as novas tecnologias nos ensinam sobre o envelhecimento saudável? 

 

JF: Muitos estudos importantes mostram que a aprendizagem vitalícia é um dos elementos verificados em idosos felizes e saudáveis. A doutora Perimutter, do Departamento de Psicologia da Universidade de Michigan, relata que, “como cientista, não só sabe mais sobre o cérebro, como valoriza mais todas as informações que não tem”. Diz ela: “Talvez porque, ao nos darmos conta dos limites do nosso conhecimento, nos concentramos mais na questão espiritual. Saber o que não sabemos é o primeiro passo do saber. Mas acho que é só na velhice que a gente realmente percebe esse fato. E acho que isso nos ajuda a desapegar”.

 

Nunca é muito tarde para se tornar quem você poderia ter sido (George Eliot).

 

Fonte:

Equipe Sem Jovem

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