OS NOVOS AVÓS BRASILEIROS

AS PESQUISAS DA BRASIL DATA SENIOR RELATAM QUE TORNAR-SE AVÓ OU AVÔ ESTÁ ENTRE AS MAIORES FONTES DE FELICIDADE PARA OS BRASILEIROS MADUROS.SEMPRE JOVEM FOI OUVIR A TERAPEUTA LIDIA ARATANGY SOBRE ESSE TEMA.

Autora do Livro dos Avós, em parceria com Leonardo Posternak, Lídia, resume abaixo seus ensinamentos e achados sobre essa relação rica, que assume novos papéis em nossos dias.

 

Até pouco tempo, a figura dos avós quase não existia, pois até meados do século XIX só 3% da população mundial ultrapassava os 60 anos. Estatísticas apontam que o século XXI será o século dos avós. Alguns exemplos: na França, cerca de 80% das pessoas com mais de 65 anos têm netos, e quase a metade serão bisavós. Na Inglaterra, metade da população por volta de 54 anos tem netos.

 

Vivemos em uma cultura em que o jovem é soberano. E, por mais que se saiba que a maturidade hoje é diferente do que era, e que há um novo perfil de brasileiros maduros reformulando perspectivas no nosso país, a fantasia da velhice continua impregnada da imagem de decadência e finitude.

 

Embora se saiba que as pessoas atualmente vivem mais e melhor, a imagem dos avós ainda está identificada com a velhice e está com a incapacidade e a proximidade da morte.

 

Os avós atuais não correspondem à imagem que se formou deles no passado: elas não passam seu tempo na cadeira de balanço, nem eles passam o dia jogando dominó.

 

Esses avós fazem parte da geração que sacudiu as premissas do modelo burguês há algumas décadas, aprovou o divórcio, foi protagonista das primeiras experiências de casamento informal.

 

Há muitos livros que ensinam como lidar com filhos, mas, apesar  do aumento da expectativa de vida contribuir para um boom na qualidade de avós, é difícil encontrar um manual para os avós de primeira viagem.

 

Chegamos despreparados aos roteiros da maturidade, que coincide com o arrefecimento dos atrativos sexuais, o afastamento dos filhos, a diminuição da atividade profissional, todas experiências de perda, que deixam vazios e levam à diminuição das fontes de prazer.

 

Os netos representam para os avós a ilusão de imortalidade e a compensação de perdas, a passagem de devedores a credores da vida. Eles resgatam experiências antigas e prazerosas em oposição a tudo o que, na realidade atual do Sênior, remete à perda dessas vivências.

 

Os avós devem isso a seus filhos.

 

A arte de ser avô consiste antes de tudo na arte de ser pai de filhos adultos, o que requer um delicado equilíbrio entre estar disponível quando necessário e não ser invasivo.

 

Na família atual, os jovens casam-se mais tarde, têm menos filhos e a vida é mais longa. Antigamente a criação dos filhos ocupava todo o período da vida ativa dos adultos e, agora, menos do que a metade. Os avós atuais são mais liberais, mais saudáveis e mais ativos.

 

Com o novo papel da mulher na sociedade, os filhos não contam mais com a presença das mães ao lado todo o tempo, o que fez com que o papel dos avós hoje assumisse uma nova dimensão.

 

Enquanto as avós se comportam como substitutas das mães, aos avôs se reserva um lugar de depositários da sabedoria familiar.

 

Para alguns homens, o vínculo com os netos atenua a angústia da aposentadoria. Os que conseguiram viver plenamente a paternidade tendem a prolongá-la no novo papel, ao contrário dos que perderam essa experiência e padecem de remorsos ao ver que na visão moderna de masculinidade, a ligação com os filhos é desejada e valorizada.

 

Não são poucos os casais de avós que moram sozinhos sem depender dos filhos, mas que mantêm com eles contatos frequentes, cultivando vínculos de apoio mútuo, mas sem proximidade exagerada. O tempo dedicado aos netos é especialmente significativo quando a filha ou nora tem uma atividade profissional. Essa ajuda é um apoio à realização da jovem mãe e vem da avó, que lutou no passado pelas mudanças na condição da mulher.

 

O QUE OS PAIS ESPERAM DOS AVÓS?

 

Os pais novatos desejam que seus pais sejam fonte de segurança e autoridade, que apoiem e aprovem sua postura diante do bebê. Querem acima de tudo ver reconhecida sua condição de adultos perante os pais, perante si mesmos e diante dos filhos. Uma boa avó deve aprender a respeitar o espaço de seus filhos – e não chegar à casa deles sem ser convidada. A recíproca também é verdadeira: por mais que os netos sejam amados, visitas aos avós devem ser combinadas.

 

O QUE ESPERAM OS AVÓS?

 

Os avós esperam ser tratados com respeito e coerência.

 

Confiar nos pais que seus filhos são é a prova cabal-pela qual há tanto esperam- de que eles próprios foram bem-sucedidos na educação dos filhos.

 

O único caminho para evitar confrontos dolorosos é pais e avós conversarem a cada situação sobre os critérios por trás das regras.

 

 

O QUE ESPERAM OS NETOS?

 

Os netos desejam que os avós se alinhem ao eixo de valores dos seus pais. As crianças toleram divergências entre pais e avós quanto a algumas decisões, desde que não impliquem desqualificações, tensões ou dramas familiares. Adoram que os avós sejam interlocutores de conversas sobre o cotidiano.

 

Os avós têm paciência para ouvir os longos relatos das crianças sobre a escola, sobre filme visto na TV.

 

Os mais sábios se aproveitam dessa brecha para construir um canal de comunicação com  os netos, pois, se houver intimidade entre avós e netos, ela pode se constituir depois na única via de acesso a futuros jovens ranzinzas, já que alguns adolescentes preservam o vínculo com os avós, que tende a ser menos belicoso e contaminado que com os pais.

 

Mas os avós precisam escapar do estereótipo de protetores dos netos e aliados da transgressão, para se transformarem em legítimos aliados dos pais, sem provocar disputas pela posse dos netos em nome da inexperiência do jovem casal.

 

Os avós devem sempre perguntar o que podem fazer para ajudar – sem imaginar que já sabem.

 

Procure não criticar o pai de primeira viagem. Eles fazem o que podem quando chega um novo bebê e estão exaustos a maior parte do tempo, sem saber como lidar com o choro do bebê.

 

Na volta da maternidade, lembre-se de que a casa do seu filho ou sua filha não é sua: não se ponha a limpar e arrumar nada, a menos que lhe peçam.

 

Os avós sabem do seu poder, afinal são os únicos que podem impor respeito aos poderosos pais das crianças, pois guardam os registros das artes desses personagens, os únicos a lembrar que um dia eles também foram crianças.

 

Diante de uma filha grávida, a situação da futura avó é semelhante à do parceiro em relação à gestante. De   fato, uma avó sofre em dobro, pois sofre pelo choro do bebê e pela angústia da filha.

 

As avós de primeira viagem ancoram suas novas vivências nas sensações que viveram no passado, o que dificulta a abertura para os aspectos inéditos da nova função.

 

A mãe recente é extremamente sensível a palpites e comentários de amigos, parentes, como: “Marinheira de primeira viagem não conhece o navio.”

 

Para se contrapor a essas frases infelizes, uma avó carinhosa pode relatar sua emoção de quando sua filha era bebê.

 

A relação entre nora e sogra é difícil. Afinal, esse é um confronto entre duas mulheres que amam o mesmo homem.

 

Ainda que tenham uma visão crítica sobre a forma como criaram seus filhos, os avós acreditam ser  responsáveis por ensiná-los a serem pais. Nem sempre os pais que eles foram, mas os que gostariam de ter sido. Evite confrontos, que são dolorosos para ambos os lados.

 

Devemos lembrar que, por trás do casal de avós, existe um homem e uma mulher que, como responsáveis  pelos filhos e netos, precisam investir na saúde da relação e cabe ao homem fazer uma ruptura no estreito vínculo que une a avó à jovem mãe e ao neto -uma tarefa semelhante à da função paterna.

 

Ao avô cabe recuperar a esposa, para devolvê-la ao lugar de mulher. Pois esse é o momento da reconstrução do ninho, quando o casal está novamente a sós, muitos sonhos substituídos por lembranças. Nessa nova etapa, os projetos são diferentes: cabe ao casal fazer um balanço de suas possibilidades e desejos de modo a resgatar a identidade do vínculo fundador dessa família. A receita para uma nova fase na convivência do casal é a esperança em relação ao futuro ser maior do que os ressentimentos do passado.

 

Fonte:

Lidia Aratangy

Psicoterapeuta de casais e família, escritora, mãe de quatro filhos e avó de nove netos.

 

 

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